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Saída: 07/12/2019
Chegada: 21/12/2019



Descrição do início das atividades:


A missão realizada durante o período de 7 a 21 de dezembro de 2019, junto ao “Laboratorio de Investigación: Género Interculturalidad y Derechos Humanos” de El Colegio de San Luis, México, coordenado pela Professora Doutora Oresta López Pérez envolveu atividades de diferentes naturezas e em variados espaços que se voltaram para distintos grupos de educadores tais como: apresentação de livro na Feira Internacional de Livros de Guadalajara, voltada para um público amplo; palestra para professores e estudantes da Escola Normal; reunião com professores indígenas que elaboram livro sobre a história da educação indígena; palestra para os professores e estudantes no âmbito do “Seminario Internacional: Diálogos Interdisciplinarios sobre Metodologías de la Investigación Educativa en México y Brasil”; reunião de trabalho com doutorandos do Laboratório; visita à Escola José Ma. Morelos no município de Santa Maria del Rio; encontro com a rede de mulheres profissionais de San Luis Potosí, da Federación Mexicana de Universitarias de San Luis de Potosí e orientação informal Rony Rey do Nascimento Silva, doutorando brasileiro, que realiza seu estágio de doutoramento com bolsa sanduíche pelo Programa Capes/PrInt no referido Colégio (COLSAN), sob a supervisão da professora que me recepcionava.


Devo destacar que mantenho uma relação acadêmica regular com a professora Oresta López há cerca de 20 anos e esta era a terceira vez que visitava a instituição que me acolheu. Recebi a Professora Oresta López na UERJ, em quatro oportunidades: 2009, quando presidi a Comissão Organizadora Local do IX Congresso Ibero-americano de História da Educação Latino-americana (IX CIHELA); em 2012, quando ela esteve na UERJ por uma semana ministrando aulas e palestras  para meu grupo de pesquisa; em 2014, quando participou de banca de doutorado de uma de minhas orientandas, em dia que antecedeu o VI Congresso Internacional de Pesquisa (Auto)Biográfica, o VI CIPA, realizado na UERJ, evento que também presidi; tendo retornado em novembro de 2019, no âmbito do Capes PrInt, a meu convite. Nosso intercâmbio acadêmico, no entanto, se iniciou em 2000, por ocasião do “I Congresso Internacional de Femización de Magistério”, evento por ela organizado na sua instituição. Posteriormente, retornei, na condição de convidada, em 2011, para participar de uma importante mesa no International Standing Conference for the History of Education (ISCHE) para celebrar os 90 anos de criação da Secretaria de Educación Pública do México- SEP, com Myrian Sotwel (Argentina) e Elsie Rockwell (México).  Encaminhei, também, a então doutoranda Kátia Maria Soares para uma bolsa sanduíche, pela Capes, em 2014.


Desta vez, de um modo geral, as atividades realizadas propiciaram o estabelecimento de uma ampla rede de contatos e trocas. Elas podem ser agrupadas em três tipos principais: 1) as que implicaram em exposição oral; 2) as que se voltaram para a escuta de trabalhos seguida de comentários sobre o desenvolvimento de investigações e ações de intervenção em andamento; e 3) as que disseram respeito ao conhecimento da realidade escolar daquele país, como pode ser visto no certificado anexo. 


1). Com relação ás atividades que envolveram exposição oral de minha parte, quero destacar a primeira que desenvolvi durante todo o período, na Feira Internacional de Livros que homenageava a Índia, por ocasião da apresentação do livro Presencia de las mujeres en la construcción histórica del normalismo rural en México durante el siglo XX, uma obra  coletiva  coordenado por Oresta López Pérez e Marcelo Hernández Santos, publicada pela editora do El Colegio de San Luis, lançada no stand do Consejo Nacional de Ciencia y Tecnología (CONACYT) – órgão governamental mexicano equivalente ao nosso Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientifico e Tecnológico (CNPq) – um espaço privilegiado inteiramente aberto ao público que circulava pelos demais stands de países europeus, em especial de língua espanhola, bem como os latino-americanos,  onde o brasileiro se destacava pelo seu tamanho exíguo, e editoras mais importantes daquele país.  Da sessão de apresentação do livro participaram também a pesquisadora Suzan Street Naused, além dos organizadores do mesmo:


Oresta López é historiadora e antropóloga da educação, uma pesquisadora experiente que tem se dedicado às questões de gênero, história oral e escolas rurais e, atualmente, sobre às temáticas que articulam violência e gênero, projeto este que envolve intervenções na sociedade, junto a grupos específicos de mulheres vítimas da violência doméstica, motoristas de ônibus e agentes de segurança de sua cidade. 


Marcelo Hernández Santos é doutor em História, pela Universidad de Zacatecas, é membro do Sistema  Nacional de Investigadores do México, pesquisa sistemas educativos, reformas educativas e pedagogias do século XX em seu país. É autor de Tiempos de reforma: estudiantes, professores y autoridades de la escuela Normal Rural de San Marcos frente a las reformas educativas – 1926-1984. 


Suzan Street Naused, doutora em Educação pela Universidade de Harvard, estuda os movimentos dos professores mexicanos em suas associações e sindicatos, com ênfase nos processos de democratização dos sistemas a partir das reivindicações e lutas dos professores organizados. Dentre outras obras, é autora de Maestros em movimento; uma periodización de veinte años sobre el movimento magisterial democrático. 


Com uma assistência volátil formada por transeuntes que paravam na medida em que se sentiam atraídos pela obra em exibição, muitos em pé e outros sentados em arquibancadas, as falas dos organizadores e de Suzan Street privilegiaram a importância da temática, visto que a educação rural ainda tem sido um tema pouco explorado na historiografia, mas sobretudo por levantar aspectos relativos aos vínculos entre educação e gênero, tais como acesso á educação e produção do conhecimento que em nome da objetividade tem excluído as mulheres; comportamentos e atitudes no ambiente escolar que perpetuam e reproduzem desigualdades e estereótipos; violência de gênero nas instituições educativas tanto em suas formas mais visíveis como de modos mais sutis; materiais didáticos e livros de texto muitos deles que perpetuam representações estereotipadas tanto do ponto de vista gráfico como textual, dentre outros.


Em minha participação tratei do livro de um modo mais abrangente. Destaquei, além da importância da perspectiva de gênero ser explorada neste momento no qual cresce o feminicídio no mundo, ao mesmo tempo em que as mulheres se organizam para denunciar formas de exclusão, desigualdades educacionais, sociais e econômicas, a importância do apoio de uma agência de fomento nacional lançar uma coletânea em um  grandioso evento cultural como aquele. Lembrei que as obras coletivas no Brasil estão sendo desvalorizadas, na área de Educação, pelas políticas de avaliação dos cursos de pós-graduação, o que tem gerado uma forte polêmica entre os pesquisadores brasileiros que apostaram nas redes nacionais e internacionais a partir deste tipo de divulgação das pesquisas. 


A segunda atividade deste tipo foi a palestra que fiz na Benemérita y Centenaria Escuela Normal de San Luis que reuniu professores e estudantes do Mestrado. Fui recebida por dois professores: Maria Guadalupe Escalante Bravo e René Medina Esquivel, dois pesquisadores que já têm uma relação com docentes brasileiros, tanto em eventos científicos como no Programa de Pós-graduação em Educação da UFMG, respectivamente.


Na ocasião apresentei a estrutura do Programa de Pós-Graduação em Educação da UERJ, pois eles estão em processo de reestruturação do mestrado. A partir do site do ProPEd, elaborei uma fala com apoio de um power-point que destacava a estrutura organizacional em linhas de pesquisa. Houve um grande interesse pelas formas de financiamento das pesquisas, particularmente por parte dos estudantes, pois o curso é pago apesar da instituição ser pública. Quanto às linhas de pesquisa, a que mais suscitou interesse foi a de Educação Inclusiva e Processos Educacionais, uma vez que o Programa se volta para a educação escolar. Problematizei algumas questões de ordem teórico-metodológica para provocar uma reflexão sobre os modos de investigar as práticas escolares a partir de temáticas, objetos e fontes aparentemente distantes da sala de aula e do chão da escola. Exemplifiquei em maiores detalhes com a pesquisa que realizei sobre uma papelaria para chegar à produção, circulação e usos dos cadernos escolares e destes para as práticas de aprendizagem e exercício da escrita. 


Finalmente, neste grupo de atividades que envolveram minha exposição de modo mais longo, assinalo minha fala sobre “Los cuadernos escolares como fuente para la historia cultural de la educación en Brasil”, quando mapeei a literatura acadêmica dos últimos 10-15 anos sobre o tema, desde os estudos efetuados por Dominique Juliá, Silvina Gvirtz, Jean Hebrard, Antonio Viñao, Maria del Mar Pozo Andres e Anne-Marie Chartier, por exemplo, para abordar o recente interesse que estes objetos despertaram nos historiadores da educação. Seguindo as pistas de artigos que publiquei sobre o tema, destaquei as principais linhas de investigação que passam pela materialidade deste suporte da escrita escolar, a complexidade, possibilidades e limites desta fonte e, também, sua produção, circulação e guarda.


A exposição foi seguida de um diálogo muito profícuo pois, diferentemente do Brasil, onde já temos uma relativa preocupação com a preservação e guarda dos cadernos, no México, este movimento, segundo a plateia é inexistente. As problematizações efetuadas proporcionaram ainda estabelecer comparações com a guarda de outros objetos escolares como os livros, cartilhas, manuais e outros impressos produzidos no interior das escolas como jornais e revistas de professores e alunos. Quais seriam os cuidados específicos que este documento exigiria dos pesquisadores? A partir desta indagação pudemos aprofundar uma reflexão da ilusão na qual podemos cair quando imaginamos que os cadernos escolares trariam o real acontecer da sala de aula. Os cadernos, assim como outros documentos, não provam o aprendido. No limite podem exemplificar o que foi ensinado, mas omitem outras tantas aprendizagens que se dão pela oralidade. Também esta pergunta permitiu uma digressão sobre as escritas de protesto e marginais que habitam as folhas e que expressam rebeldia, contestação e fuga do que se supõe ter sido ensinado ou aprendido. 


2). Com relação às atividades que se voltaram para a escuta de trabalhos seguida de comentários sobre o desenvolvimento de investigações e ações de intervenção em andamento; devo assinalar a sessão de trabalho com o grupo de pesquisa do “Laboratorio de Investigación: Género, Interculturalidad y Derechos Humanos, de El Colegio de San Luis”, quando cada participante apresentou sua pesquisa e pude falar um pouco dos trabalhos desenvolvidos e,sobretudo, abordar o projeto que coordeno no âmbito do Capes PrINt, sobre “Escritas de si, memórias e profissão docente”, que engloba  trajetórias de educadores e produção e circulação de modelos educacionais e práticas pedagógicas escolanovistas, dentre outras. 


Visitei uma escola primaria de tempo integral, a Escuela Primaria José Ma. Morelos de uma comunidade rural, Cañada de Yáñez, do município de Santa María del Rio, em San Luis de Potosi. 



Resumo das atividades:


1. Presentación del libro Presencia de las mujeres en la construcción histórica del normalismo rural en México durante el siglo XX, Libro colectivo coordinado por Oresta López y Marcelo Hernández. Publicado por el Colegio de San Luis. La presentación se hizo el 8 de Diciembre de 2019, en el Stand del Consejo Nacional de Ciencia y Tecnología, en Guadalajara Jalisco, en el marco de la Feria Internacional del Libro. 


2. Palestra “Experiencias de Organización de Pesquisa en grupos y laboratorios de investigación educativa”, con doctorantes e investigadores de la BECENE, Benemérita y Centenaria Escuela Normal del Estado, de San Luis Potosí, 11 de diciembre de 2019, División de Estudios de Posgrado. 


3. Reunión de intercambio con profesores indígenas Tének y Nahuas de San Luis Potosí, sobre el tema de estrategias para la escritura de la historia de la educación indígena. 14 de diciembre.


 4. Palestra de clausura “Los cuadernos escolares como fuente para la historia cultural de la educación en Brasil”. Impartida en el Seminario Internacional: Diálogos Interdisciplinarios sobre Metodologías de la Investigación Educativa en México y Brasil. Sala Miguel Caldera, de El Colegio de San Luis, 18 de diciembre 17:00 hrs. 


5. Sesión de trabajo con el equipo de investigación del Laboratorio de Investigación: Género, Interculturalidad y Derechos Humanos, de El Colegio de San Luis, en el cual fue escucha de los proyectos que realizamos y nos aportó su experiencia de investigación acerca de su proyecto de Internacionalização Capes/Print, história da educação, trajetórias de educadores e produção e circulação de modelos educacionais e práticas pedagógicas escolanovistas. 12 de diciembre 2019. 


6. Recorrido por nuestros acervos bibliográficos en el COLSAN y Archivo Histórico de la BECENE. 12 de diciembre 2019.


 7. Entrega de donativos de obra publicada por la Dra. Mignot, a la BECENE y al COLSAN. 18 de diciembre de 2019. 


8. Recorrido a escuela Primaria de tiempo completo “José Ma. Morelos” de la comunidad Cañada de Yáñez, del municipio Santa María del Rio, SLP. En la zona del altiplano potosino. Realizada del 16 de diciembre de 2019.


 9. Intercambio con la red de mujeres profesionistas de San Luis Potosí, Federación Mexicana de Universitarias, sección San Luis Potosí. 20 de diciembre 2019. 


10.Asesoría a doctorante Rony Rey do Nascimiento Silva, Bolsita Brasileiro en estancia de inveinvestigación en el COLSAN, 20 de diciembre 2019.


 


Saída: 01/03/2023
Chegada: 31/07/2023



Descrição do início das atividades:


Este relatório trata de estágio como Professora visitante junto ao Grupo de Investigación Lectura, Escritura y Alfabetización (LEA), Seminario Interdisciplinar de Estudios sobre Cultura Escrita, (SIECE) coordenados pelo Professor Catedrático Antonio Castillo Gómez. Neste período, participei de março a junho do XVIII Seminário Anual (SIECE) Febrero- Junio/2023 – A Herencia de Calíope. Femininidades y subalternidades gráficas – Dirección: Verónica Sierra Blas y Antonio Castillo Gómez; Secretaría: María de la Hoz Bermejo Martínez – Organizan: Universidad de Alcalá; LEA; SIECE, Grupo de Innovación Docente Lectoescritores; Ministerio de Ciencia e Innovación; Agencia Estatal de Investigación; Proyecto de Investigación “Vox Populi”. Espacios, prácticas y estratégias de visibilidade de las escrituras del margen en las épocas moderna y contemporânea (PID2019-107881GB-I00). No mês de março participei ainda por três dias da IV Jornadas Ellas toman la pluma – Escritura de mujeres más allá de la nobleza,
Universidad de Alcalá, 29 a 31 de marzo de 2023. Proyecto Corpus de documentos españoles anteriores a 1900 (CODEA+ 2020, FF12017-82770-P) – Universidad de Alcalá; Grupo de Investigación de Textos para la Historia del Español (GITHE). Departamento de Filologia, Comunicación y Documentación de la UAH. Líneas temáticas: correspondencia en tempos de guerra; escritura desde el convento; cruzando el océano: cartas de la emigración; mujeres trabajadoras; maestras y discípulas: alfabetización y escritura en ámbito escolar.


Esses dois eventos acadêmicos contribuíram de modo particular para o refinamento da abordagem teórica e metodológica adotada nas investigações atuais no âmbito dos estudos em andamento junto ao grupo de pesquisa Infância, Juventude, Leitura, Escrita e Educação (GRUPEEL/CNPQ) por mim coordenado, cuja perspectiva, para além dos livros e impressos voltados às crianças e aos jovens, ampliou-se para o valor histórico da escrita feminina, em livros, conferências e impressos, forma de as mulheres de distintos extratos sociais resistirem à condição de subalternidade.


Como derivação, foram produzidos dois estudos: um capítulo para um livro organizado pelos pesquisadores Esequiel Gomes da Silva (Universidade Federal do Pará - UFPA), Juliana Maia de Queiroz (Universidade Federal do Pará - UFPA) e Luciana Namorato (Indiana University – EUA), Coletânea sobre autoras brasileiras que escreveram e publicaram em diferentes gêneros 


literários do século XIX à contemporaneidade, escrito em coautoria com a Doutoranda Carla Bispo Azevedo, intitulado Sensibilidades do feminino no Diário de Ana Lúcia, de Maria Eugenia Celso, Mercado das Letras, (no prelo) e Mulheres sufragistas na federação brasileira para o progresso feminino (1922-1934): atividades laborais, direitos e perspectivas de emancipação, trabalho aprovado a ser apresentado na 41a Reunião Nacional da Associação Nacional de Pós- graduação e Pesquisa em Educação (ANPED), Manaus, em outubro de 2023.


Por outro lado, participei das aulas e eventos acadêmicos relacionados ao Grado e Máster Universitario en Gestión Cultural y de Industrias Creativas; Leer, patrimonio de todos (2022- 2023): aulas, visita a Casa del Lector (Madrid), comentários dos projetos finais apresentados pelos mestrandos, participação na apresentação e comentários sobre o livro Aldo Manucio. De re impresoria. Cartas prologales del primer editor, atividade realizada pelos alunos do curso em mesa de debate da qual tomaram parte Ana Mosqueda, editora da obra, o Professor Antonio Castillo Gómez, Doctor en Historia y catedrático en la UAH dedicado a la cultura escrita e Emílio Torné, Profesor de la UAH e tipógrafo. Consistiu em experiência singular, visto facultar acompanhar a metodologia utilizada nas aulas, a desenvoltura dos alunos na organização da mesa de debate e por refletir sobre a história editorial da obra, que apontou derivações para além do período do Renascimento, quando de sua edição original.


Ademais, importou, em particular, estabelecer interação com a Dra Beatriz Albelda Esteban, com atuação na Biblioteca Nacional da Espanha (BNE), por ocasião de palestra que tratou da análise do papel das bibliotecas públicas e das bibliotecas escolares sediadas nas províncias da Espanha na perspectiva dos acervos e da formação de leitores. Na ocasião, pude estabelecer comparações com o sistema de bibliotecas públicas e escolares no município do Rio de Janeiro e com os projetos de leitura por mim coordenados no âmbito da extensão universitária/UERJ, Rodas de Leitura Literária na EDU, assim com o Projeto Leitura, Literatura e Formação na escola pública em Tempos de Pandemia, desenvolvido em escola municipal da rede pública, Escola Municipal Oswaldo Teixeira, financiado pela FAPERJ (Edital n. 45/2021)


Outro eixo desenvolvido no âmbito do estágio diz respeito à pesquisa documental junto ao Archivo General de la Administración, em Alcalá de Henares: Fundo (05) Educación (Instruccion Publica) e Fundo (03) Cultura (Expediente de libros censurados). Neles, pude levantar e examinar livros escolares de leitura e de escrita voltados ao ensino primário, assim como a ação dos censores em relação à aprovação ou expurgo de livros ficcionais ou de natureza científica. Deste levantamento e sistematização, resultou ampla massa documental e a organização de um banco de dados, a ser explorado por mim e pelos membros do Grupo de Pesquisa, com vistas à comparação com os livros escolares de leitura e escrita produzidos no Brasil no mesmo período. Como derivação preliminar, indicam-se ainda um capítulo escrito em coautoria com a Doutora e membro do grupo de pesquisa, Gabrielle Mondego, intitulado Júlia Lopes de Almeida: uma intelectual com atuação no campo da literatura infantil, para a coletânea intitulada Literatura Infantil e Juvenil de autoria feminina no Brasil, organizado pelo Professor Dr. Fernando Rodrigues de Oliveira, do programa de Pós-graduação em Educação da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP), (no prelo), o artigo escrito em coautoria com a Doutora Michele Carvalho, intitulado Livros em coleções endereçados às crianças brasileiras: uma perspectiva histórica, submetido ao Cadernos de História da Educação e um artigo escrito por mim no mês de julho e submetido à Revista Brasileira de História da Educação: Manuais de leitura e de escrita para o ensino primário: o caso da Espanha (1900-1905).


Rio de Janeiro, 22 de agosto de 2023
Márcia Cabral da  Silva 


 



Saída: 15/11/2019
Chegada: 30/11/2019


 



Descrição do início das atividades:


Trata-se da descrição das atividades realizadas no âmbito da missão de trabalho derivada de minha participação no Projeto CapesPrint, desenvolvidas junto ao Seminário Interdisciplinar de Estudos sobre Cultura Escrita (SIECE) dirigido pelo Professor Catedrático Antonio Castillo Gómez, coordenador do Grupo de Pesquisa “Lectura, Escritura, Alfabetización” na Universidad de Alcalá, inseridos no Departamento de Historia y Filosofía dessa Universidade.


  • SEMANA 1: 


18/11- Reunião de pesquisa com o Professor Antonio Castillo Gomez; planejamento de entrevista sobre sua trajetória de pesquisa em História Social da Cultura Escrita, a ser divulgada em periódico qualificado no Brasil em 2020, investimento em produção acadêmica conjunta. Formulação das questões da entrevista, submissão e aceite por parte do Professor.


 Entrevista: 


Antonio Castillo Gómez é doutor em História e Professor Titular de História da Cultura Escrita na Universidade de Alcalá. Diretor Científico do Seminário Interdisciplinar de Estudos sobre Cultura Escrita (Siece) e Coordenador do Grupo de Investigação “Leitura, Escrita, Alfabetização” (LEA). Tem sido professor convidado em diversas Universidades, entre estas as Universidades do Estado do Rio de Janeiro e Universidade do Vale do Rio dos Sinos. Autor, entre outros, dos seguintes livros: Escrituras y Escribientes. Prácticas de la Cultura Escrita en una Ciudad del Renacimiento (1997), com o qual obteve o Prêmio Internacional “Agustín Millares Carlos” de Investigação em Humanidades; Historia Mínima del Libro y la Lectura (2004); Entre la Pluma y la Pared. Una Historia Social de la Escritura en los Siglos de Oro (2006) e Leggere nella Spagna Moderna: Erudizione, Religiosità, Svago (2013). Em português publicou Das Tabuinhas ao Hipertexto: Uma Viagem na História da Cultura Escrita (2004); Livros e Leitura na Espanha do Século de Ouro (2014) estando prevista a edição de Grafias no Cotidiano: Escrita e Sociedade na História (Séculos XVI-XX), pela Editora da Universidade do Estado do Rio de Janeiro. De 2005 a 2010 dirigiu a revista semestral Cultura Escrita & Sociedad. Integra diversos conselhos científicos de revistas nacionais e estrangeiras nas áreas de História da Educação e Antropologia.


1-Professor Antonio Castillo Goméz, poderia mencionar os pontos centrais de sua trajetória de pesquisa, notadamente no que diz respeito à História Social da Cultura Escrita?


2-O senhor tem publicações relevantes no Brasil e estabeleceu relações intelectuais com vários pesquisadores e instituições brasileiras. Gostaria que descrevesse esses contatos e falasse da importância dessas relações no âmbito da internalização das pesquisas desenvolvidas em ambos os países.


3-Um conceito chave em seus estudos, para nós, seus leitores, refere-se às escritas ordinárias de pessoas comuns. Parece-me, inclusive, marcar uma clara distinção em relação à historiografia tradicional sobre os processos de alfabetização e acesso à cultura escrita. Qual seria, de fato, a relevância do conceito no âmbito do seu projeto intelectual?


4-Ainda no que diz respeito ao desenvolvimento de seu projeto intelectual, observa-se a presença de autores com os quais parece ter estabelecido profícuas interlocuções. Refiro-me, em particular, a Armando Petrucci, Roger Chartier, Antonio Viñao Frago. Poderia discorrer sobre essas interlocuções ao longo de sua trajetória na condição de historiador da cultura escrita?


5-Da leitura de seus estudos, refiro-me em particular ao livro publicado no Brasil, Livros e Leitura na Espanha do Século de Ouro (2014), e Grafias no Cotidiano: Escrita e Sociedade na História (Séculos XVI-XX), a ser editado pela Editora da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, emerge um número expressivo de acervos consultados. Poderia destacar alguns e descrever as condições de pesquisa fornecidas nesses acervos ao historiador da cultura escrita?


6-Por outro lado, nota-se em suas pesquisas uma ênfase em diferentes tipos de suportes do texto escrito ao longo da história, capazes de preservar a escrita ordinária do esquecimento, tais como tabuinhas, panfletos, cartazes, cartas, cadernos, muros. De que modo o pesquisador na área da História Social da Cultura Escrita poderia se beneficiar da análise desses vestígios e que cuidados metodológicos ele deveria adotar, quando da constituição de séries e categorias de análise?


7-Outro aspecto que chama a nossa atenção na leitura de seus textos diz respeito aos diferentes tempos históricos abordados: Idade Média, Idade Moderna, Contemporânea. Qual período lhe foi mais favorável do ponto de vista do levantamento de dados e procedimentos de análise?


8-Por último, poderia nos contar a respeito de seu projeto de pesquisa atual e as possíveis inflexões em relação ao que já vem estudando ao longo dos anos?



19/11- Participação como ouvinte, por sugestão do Professor Antonio Castillo Gómez, no Congreso Internacional Literatura y Franquismo: ortodoxias y Heterodoxias – Universidad de Alcalá – 19-22 de noviembre de 2019


11h às 12h – Ponencia inaugural (Salón Actos) – Geneviène Champeau (Université Bordeau Montaigne) – Relatos de viaje, ideologías y poéticas bajo el franquismo. Presenta: Ana Casas.


12h45 às 14h- Comunicaciones: Censura teatral; Políticas culturales coloniales y postcoloniles; Institucionalización de canones de la poesia em la pós-guerra; Ortodoxias y heterodoxias em el teatro; Los discursos de la ortodoxia; Censura; estudios de caso.


18h30 às 19h30 – Conferencia plenária (Salón de Actos) – Pilar Godayol (Universitat Central de Catalunya) – “Feminismos y traducción em los anõs sessenta y setenta. Ensayos de la segunda Ola”. Presenta: Fernando Larraz.


Recital de poesia carcelaria. Presenta: Paula Pulido Egea (Imperial Craft Berre. Calle Escritorios, 3) – Obs: Não foi emitido certificado por minha condição de ouvinte.



20/11 – Visita e cadastramento no Archivo Histórico Nacional, Ministerio de Cultura y Deporte, localizado em Madri en la calle Serrano. Consulta e levantamento junto ao fundo sobre projetos educativos: BIBLIOTECA, MO, 14673 e BIBLIOTECA, MO, 10357.



21/11 – Reunião de Pesquisa com o Professor Antonio Castillo Gómez e levantamento preliminar de fontes documentais relativas ao fundo escolar sob a guarda do Archivo de Escrituras Cotidianas (AEC – SIECE) – (1887-....) Universidad de Alcalá: - Apuntes y ejercicios escolares; cuadernos escolares; cuadernos de rotación; boletines de notas; diários de classe; discursos; cartillas; manuales epistolares, manuales de lectura; libros de texto; orlas caligráficas, periódicos escolares.



22/11- Visita guiada e pesquisa preliminar junto ao Archivo General de la Administración Alcalá.


Fondos: 1- Fondos de los organismos públicos em el ámbito de la Administración Central; 2- Volumen importante de documentación procedente de organismos de la Administración Central y Periférica, así como de la Administración Española en África y los documentos producidos por las instituciones político-administrativas del franquismo (1936-1977); destacan por sus características especiales los de algunos fondos de los órganos del Poder Judicial, de la administración Consultiva, Institucional y Corporativa, así como los producidos por la actividad de socidades estatales y empresas mixtas; merecen especial atención, por su gran volumen y variedade, sus fondos fotográficos y catalográficos.


Consultei, em particular, os fundos sobre livros censurados no período franquista.


 


  • SEMANA 2:


25/11 – Sistematização das fontes documentais levantadas, de modo específico, o fundo escolar sob a guarda do Archivo de Escrituras Cotidianas (AEC-SIECE), conforme descrito abaixo:


Archivo de Escrituras Cotidianas – Fondo Escolar (FE)


Caixa 1


1-FRANCÉS, José. Grafos – Segunda serie de manuscritos; continuación al MANUSCRITO del mismo autor  - 2ª EDICIÓ - obra aprobada de texto y premiada com medalla de plata em la exposición regional de Valencia de 1909, com medalla de oro y diploma de honor em la Nacional de 1910 y com medalla de oro y dioploma de honor em la Exposición Internacional de Paris de 1912 – Valencia, Plaza de la Reina, 14, 1911? Preopriedad – Depositado según ley, Tipo- Litografía y relieves de E. Mirabet: Hernán Cortés, 14, Valencia


Indice: Al Magisterio, Advertencia importantíssima Vida íntima; vida comercial, vida oficial, vida literária – 190 páginas.


2-Lectura de Manuscritos – contiene estilo de cartas, modelos da facturas, recibos, pagarés y documentos útiles que pueden redactarse sin necesidad de notário ni abogado , por D. Pedro Flórez González. Elprobado de texto para los establecimientos públicos de primera enseñanza – sexta edición – Madrid ; imprenta de E. Rubiños – Plaza de la  Paja,7, BIS,  Indice: Prólogo, cartas, felicitaciones, outro género de cartas, cartas utiles, circulares y cartas mercantiles, etc, 133 páginas, 1886?


3-Manuscrito para niños y niñas por José Francés. 13ª edición, declarado de texto: premiado com medalla de Plata em la Exposición Regional de Valencia de 1909, com Diploma de Honor y Medalla de Oro em la Nacional de 1910 y com Medalla de Oro y Diploma de Honor em la Exposición Internacional de París de 1912, 1904?


4-Manuscrito Guia Epistolar . Guia Epistolar Español – Manuscrito par niños. Muy útil para facikitar la lectura de manuscritos por d. narciso Masvidal y Puig. Declarado de texto por R.O. 5 de mayo de 1899, décima novena edición. Librería Rosals – Puertaferrista, 30, Barcelona, 1931. 


5-Lectura de Manuscritos. Arreglado y publicado por Saturnino Calleja. Editorial Saturnino Calleja S. A.Este libro ha sido aprobado con fecha 10 de marzo de 1888 poe el Consejo de Instrucción pública para que sirva de texto em los estabelecimentos públicos da pimera enseñanza. Índice: prólogo, cartas, felicitaciones, etc...., 133 páginas. 


6-Guía epistolar español o Manuscrito para niños muy útil para facilitar la lectura de amuscritos por Narciso Msvidal y Puig. Declarado de texto por Real orden de 5 de Mayo de 1899, octava edición. Barcelona, 1909, Librería, Papelaría e Imprenta de Juan Rosal, Puertaferrisa, 30. 


7-Manuscrito Moderno por J. Demuro. Editorial Estudio de Juan Ortiz. Marqués de Torrelaguna, 20 -Ciudad Lineal – Madrid-155 páginas.


8- De las cartas. Librería Montserrat de suc. De roca y bros, Fernando, 43, Barcelona.


9- Guía del Artesano – Libro que contiene los documentos de uso más frecuente em losnegocios de la vida y 240 caracteres de letra par facilitar a los niños la lectura de manuscritos, tan útil a toda classe de personas por Esteban Paluzie y Cantalozella. Barcelona Hijos de Paluzie editores.  Calle de la Diputación, 337, 1913. 148 páginas. 


10- Miscelanea General de documentos vários arreglados á las leys vigentes, usos y costumbres por Esteban Paluzíe . Obra aprobada para texto por R.O. de 19 Febrero 1864. Barcelona: Hijos de Paluzie Editores, Calle Diputación, 337, 1907. 300 páginas.Indice: cartas de pésame, cartas familiares, menu, anúncios, etc...


11- Manuscrito Metódico – El Manuscrito Metódico – Colección de cartas, documentos mercantiles y oficiales, autógrafos y trabajos literários próprios para ejercitar a los niños y niñas em la lectura de manuscritos por D. Antonio Bori y Fontestá, professor Normal y Director de uma de las Escuelas Municipales de Barcelona. Bajo la censura del M. J.  Sr. Dr. D. Miguel Saló PBRO, y aprobación de la autoridade eclesiástica. Aprobado para texto por Real orden de 12 de Mayo de 1894. Barcelona, Imprenta y Librería de Montserrat de Herederos de J. Roca y BROS, Fernando VII, 43, 1909. 186 páginas.


12- El primer manuscrito, Metodo completo de lectura,  por José Dalmán Carles, professor Normal, Director de la Escuela Nacional Graduadá de lá ciudad de Geroná. Nueva edición, corregida y aumentada. Aprobada por la autoridade: Lecciones de cosas, ejercicios de recitación, género epistolar, lectura educativa, biografias, ejercicios de reflexión, 100 grabados. Dalmáu Carles, Pla. S. A., editores. 


13- Labor Escolar Libro II – Comienzos – serie de textos graduados para la enseñanza primaria desarrollados según los cuestionarios nacionales. Libro segundo correspondiente al primer ciclo ( segundo curso) de enseñanza elemnetal . Editorial Dalmáu Carles, Pla. S. A. Gerona , Madrid, 1955.


14- Mis Primeros Pasos. Enciclopedia Intuitiva (Nueva Enciclopedia Escola H. S. R.) por Manuel Antonio Arias – Maestro Nacional – Ilustrada em colores com dibujos de trazo sencillo por Julio Algora Maestro nacional . Hijos de Santiago Rodriguez , Burgos, 15 edicion, 1958.


15- Sistema Paláu. Método Fotosilábico. Técnica rápida para el aprendizage de la lectura y la escritura del castellano. 2ª Fotosilabico. Antonio Paláu. Ediciones Anaya, 1972.


16- Rayas, por Angel Rodriguez Alvarez. Cartilla. 2ª edición. 


17- Amiguitos. Segunda Cartilla, método de lectura, escritura y dibujo simultâneo. Por Manuel Antonio  Arias, maestro nacional, ilustrada em colores por J. Algora, maestro nacional, 40ª edición, 1972, Hisjo de Santiago Rodriguez, Molinillo, 11, Burgos. 


18- Amiguitos, catilla terceira. M. Antonio Arias, 9ª edición, 1972. Hijo de Santiago Rodriguez, Molinilla, 11, Burgos. 


19- Mis segundos Pasos – Grado preparatório (nueva enciclopédia escolar H.S.R.) – por Manuel Antonio Arias maestro nacional .  Ilustrada em colores com dibujod de trazo sencillos por Julio Algora maestro nacional.Hijos de Santiago Rodriguez – Burgos, 18ª ed. Reformada, 1960. Aprobado por el Ministerio de educación nacional. 


20- Cartilla Cisco por Cisco Blanco dibujos de Alfonso, Industria Grafica Valverde, Apartado 180, San Sebastian. 



26/11 a 29/11 – Participação na condição de participante na XIV Jornadas de Castilla-La Mancha sobre investigación em archivos: Mujeres Espacios y Tiempos realizadas no Archivo Histórico Provincial de Guadalajara – Comité Organizador: Antonio Castillo Gómez (Universidad de Alcalá; LEA-SIECE); María Cedenilla Paredes (Archivo Histórico Provincial de Guadalajara) ; Rafael de Lucas Vegas (Archivo Histórico Provincial de Guadalajara) y Verónica Sierra Blas (Universidad de Alcalá; LEA-SIECE)



26/11


 Inauguración


18h30- Apertura de la exposición – Com nombre de mujer. Las mujeres em el callejero de Guadalajara


19h-Acto Inaugural – Conferencia de Rosa Regàs Pagès (Escritora y traductora) – Historia de la mujer que supo convertir la rutina y la obediência em creación: dificultades y recursos


20h-Concierto-homenaje a las mujeres compositoras – Amy Beach (1867-1944)



27/11


9h às 11h30- Poder y política


11h30 às 14h30-Religiosidades femininas


16h30 às 18h30-Artes, Letras y Ciencias



28/11


 9h às 11h30 -La enseñanza: maestras e alumnas


11h30 às 14h30 – La mujer trabajadora: campesinas, artesanas, obreras, amas de casa


16h30 às 18h30 – Em primera línea: emigrantes, guerrilleras, resistentes, represaliadas



29/11


9h às 13h – Mesa de proyectos


13hàs 14h – Clausura 


Conferencia de clausura: Luis Martínez García (Archivo  de Castilla-La Mancha) – Archivar em feminino. La presencia de la mujer y del feminismo em la géstion de los archivos públicos españoles. Inmovilismo o cambio?


               Rio de Janeiro, 1 de dezembro de 2019
               Márcia Cabral da  Silva 


 


 


Saída: 15/11/2019
Chegada: 30/11/2019



Descrição do início das atividades:


Realizei Missão de estudos e investigação na Universidade de Sevilha, no Departamento de Teoria e História da Educação e Pedagogia Social da Faculdade de Ciências da Educação, durante o período de 15 a 30 de novembro de 2019. Inicialmente, fui recebida pelo grupo de pesquisa do professor Pablo Álvarez Domínguez, o qual faz parte do Plano Andaluz de Investigação HUM206, que pertence ao Projeto História, memória e patrimônio da educação e funciona na sede do Museu Pedagógico da Faculdade de Ciências da Educação da Universidade de Sevilha. 


Durante o período da Missão, participei das atividades desenvolvidas pelo grupo de pesquisa, entre elas, aulas para alunos da graduação em Ciências da Educação, realizadas no próprio Museu Pedagógico, onde, por meio de um convênio com uma instituição assistencial, pessoas da terceira idade com princípio de Alzheimer visitaram o Museu e realizaram atividades dirigidas pelos alunos. Entre essas atividades, ressalto uma delas, na qual eram apresentados objetos do acervo aos visitantes e cada um era estimulado a falar sobre as lembranças que tinha de sua escolaridade, relativas ao objeto apresentado. As alunas dirigiam a atividade, sob a supervisão dos professores, além de registrarem as narrativas, promovendo diversas formas de diálogo entre o material do acervo do Museu e as histórias de vida dos visitantes. 


Compartilhei, ainda, aulas do professor Pablo Álvarez Domínguez no Curso “Máster Universitario en Profesorado en Enseñanza Secundaria” (MAES), que é um mestrado direcionado a professores do ensino secundário da rede pública oficial de escolas espanholas, que qualifica para o ensino profissional, bem como para a promoção da investigação no campo da educação. 


No dia 22 de novembro de 2019, no Salão de Atos da Faculdade de Ciências da Educação da Universidade de Sevilha, participei da inauguração da ampliação do Museu Pedagógico, quando ocorreu a abertura de uma exposição especial dedicada à Educação Geral Básica (EGB), que permite ao visitante retornar aos anos escolares de 1970 e 1980, por meio da mobília, de manuais, de objetos escolares etc., próprios da época e reconstruídos em um cenário composto também por uma cinegrafia. O acervo e o equipamento do Museu Pedagógico propõem, ainda, uma visita retrospectiva de caráter interpretativo a uma aula ocorrida durante a “Ley General de Educación de 1970”. No ato de inauguração, o professor Alejandro Mayordomo Pérez, professor universitário de História da Educação da Universidade de Valência e presidente da Sociedad Española para el Estudio del Patrimonio Histórico Educativo (SEPHE), proferiu a conferência intitulada: La Educación General Básica, um hito de nuestra historia educativa.


Cabe destacar, entre as atividades de investigação, a pesquisa sobre a educação doméstica feminina na Espanha do oitocentos, realizada na Biblioteca da Universidade de Sevilha, na Biblioteca Pública Provincial Infanta Elena de Sevilla, e no Centro de Documentación María Zambrano, este último, um Centro de Documentação especializado em “Mulher e Gênero”, de acesso gratuito e a disposição de todos que buscam documentação relativa a esta temática. No Centro de Documentación María Zambrano recebi um exemplar das Revistas publicadas nos últimos anos e livros especializados, os quais poderão contribuir imensamente com os estudos realizados no grupo de pesquisa sob a minha coordenação. Ademais, o Centro de Documentación María Zambrano conta com um fundo especializado que trata da educação de mulheres. 


Além das atividades relatadas, ministrei aula para a turma de graduação de Ciências da Educação, na disciplina de História da Educação e realizei a conferência sobre Educação doméstica no século XIX: preceptores que educam nas casas oitocentistas para famílias aristocráticas.


Ressalto, ainda, a importância que a troca de experiências no convívio com professores estrangeiros proporcionou a minha formação, bem como as oportunidades de investigação que compartilhei durante esse período, atingindo plenamente os objetivos de internacionalização de conhecimentos, pesquisas e práticas docentes.


          Rio de Janeiro, 04 de dezembro de 2019.
          Maria Celi Chaves Vasconcelos.


 


Saída: 02/11/2021
Chegada: 19/11/2021



Descrição do início das atividades:


De acordo com a carta convite recebida, realizei Missão de estudos e investigação na Universidade de Sevilha, no Departamento de Teoria e História da Educação e Pedagogia Social da Faculdade de Ciências da Educação, durante o período de 02 a 19 de novembro de 2021. Inicialmente, fui recebida pelo grupo de pesquisa do professor Pablo Álvarez Domínguez, o qual faz parte do Plano Andaluz de Investigação HUM206, que pertence ao Projeto História, memória e patrimônio da educação e funciona na sede do Museu Pedagógico da Faculdade de Ciências da Educação da Universidade de Sevilha. 


Durante o período da Missão, participei de diversas atividades desenvolvidas pelo grupo de pesquisa, entre elas, aulas para alunos da graduação em Ciências da Educação, realizadas no próprio Museu Pedagógico. 


Entre as atividades, ressalto a realização da principal delas, a Exposição “Meninas e Meninos de Deus! A primeira comunhão no Brasil e na Espanha” / “Niñas y niños de Dios! La Primera Comunión en Brasil y España”, resultante da pesquisa conjunta com o professor Pablo Álvarez Domínguez, já publicada na Revista Cadernos de História da Educação, sob forma de artigo, intitulado “A primeira comunhão feminina entre dois lados do oceano (Brasil e Espanha): imagens arquivadas de educação e religião” (DOMINGUEZ, P. A.; VASCONCELOS, M. C. C.,v. 20, p. 1-22, 2021).


A Exposição bilíngue, em português e espanhol, foi realizada como uma parceria entre a Universidade do Estado do Rio de Janeiro e a Universidade de Sevilha, possibilitada pelo Programa de Internacionalização CAPES Print. Nesta exposição, realizada no Museu Pedagógico da Faculdade de Ciências da Educação da Universidade de Sevilha, foram apresentadas fotografias de primeira comunhão de diversos estados brasileiros e das províncias espanholas, com as estampas que faziam parte deste evento. O objetivo central da Exposição tratou de analisar os retratos produzidos expressamente para esse fim, o dia da primeira comunhão, com foco em aspectos como a postura, a indumentária, os objetos de cena, o mobiliário, a simbologia religiosa presente etc. De forma mais específica buscou-se comparar imagens produzidas no Brasil e na Espanha, durante a primeira comunhão, examinando-se as peculiaridades próprias de cada país. A exposição procurou demonstrar o ritual da primeira comunhão como uma festa familiar importante, com a exibição de imagens dos anos de 1910 a 1990. Entre os resultados que podem ser observados a partir do enredo do Projeto Expográfico, é claramente visível a mudança de padrão comportamental em relação a esse rito, na elaboração das fotografias nos dois países, Brasil e Espanha. Além disso, consta-se a relação estreita entre a primeira comunhão com as práticas escolares, caracterizando-se como um momento ritualizado no contexto do próprio cronograma escolar. 


A Exposição “Meninas e Meninos de Deus! A primeira comunhão no Brasil e na Espanha” / “Niñas y niños de Dios! La Primera Comunión en Brasil y España” foi organizada desde o seu planejamento, seleção dos materiais e montagem, pelos professores curadores Pablo Álvarez Domínguez e Maria Celi Chaves Vasconcelos, como parte da missão CAPES Print, com a colaboração dos professores Maria José Rebollo Espinosa (US), Cláudia Gonçalves de Lima (UERJ) e Marina Nuñes (US).


A exposição foi inaugurada em 17 de novembro, com a presença de autoridades acadêmicas, devendo ficar aberta à visitação até 30 de dezembro, quando espera-se atinja um público de duas mil pessoas, entre visitantes, alunos e professores, cumprindo um de seus objetivos de   compartilhar, de forma interativa com o público visitante, a análise dos retratos feitos expressamente para a comemoração do dia da primeira comunhão. Para tanto, chama-se atenção dos visitantes de aspectos como postura corporal, roupas, objetos de palco, móveis, símbolos religiosos presentes etc. Além disso, destaca-se a evidência de que a Primeira Comunhão é vivida como um feriado familiar importante em lugares geograficamente distantes, mas igualmente influenciados pela Igreja Católica. Do ponto de vista do patrimônio histórico educacional, esse momento do processo formativo é de interesse e de importância porque por muito tempo o ritual fez parte não só da vida religiosa, mas também da socialização e aculturação da infância e também foi entendido como um evento digno de lembrança e memória. 


Como se tratou de um evento realizado na sede do Museu Pedagógico da Faculdade de Ciências da Educação da Universidade de Sevilha, foi divulgado nos canais oficiais da Universidade, entre eles o Boletín Semanal de Noticias de la Universidad, bem como na mídia local. No âmbito do Museu Pedagógico, os primeiros visitantes da Exposição foram apresentados ao material, promovendo-se diversas formas de diálogo acerca das fotografias nos contextos do Brasil e da Espanha. Entre as perguntas interativas, foram apresentadas as seguintes questões: 1) ¿Observas alguna diferencia en general en cuanto al atuendo de niñas y niños? 2) ¿Qué pueden significar los diferentes accesorios que acompañan a los trajes de Comunión (vela, azucenas, rosario, limosnera, velo...)? 3) ¿Por qué piensas que a finales de los '60 y principios de los '70 muchas niñas de Brasil y España hacen su Comunión vestidas de monjas? 4) ¿De dónde se te ocurre que pueden provenir las poses y estilos en el vestir que se ven con frecuencia a partir de fines de los '50? 5) ¿Crees que los fotógrafos piden a niños y niñas que poseen de igual forma? 6) ¿Notas diversidad en cuanto a la edad de las y los celebrantes? 7) ¿Y en cuanto a su clase social? ¿O a su etnia, en el caso de Brasil? 8) Hemos encontrado un número significativamente menor de fotografías de Comunión en los anticuarios a partir de los '70, ¿a qué circunstancias piensas que puede deberse esto? 


As respostas também podiam ser dadas por meio de um QR CODE montado para esse fim.  


Com relação às respostas recebidas foi possível sintetizar, a partir daquelas inicialmente tabuladas, os seguintes aspectos para cada questão: 1) En ambos os casos, los atuendos de Comunión sirven, de alguna manera, para anunciar la entrada de niñas y niños en la comunidad adulta, de ahí que ellas vistan de novias y ellos de almirantes os similares. Pero puede observarse que el vestido de las niñas es más variado, evoluciona bastante con las modas y suele ser más sofisticado que el de los niños que, a menudo, visten con ropa que luego pueda ser usada en los días de fiesta y ocasiones solemnes. 2) Vela = luz divina, que desde el momento de la Comunión acompañará a niños y niñas; Azucenas u otras flores blancas = pureza, inocencia; Rosario = Compartir los rezos con la comunidad católica; Limosnera = para recoger los regalos recibidos por la celebración del ingreso adulto en la Iglesia; Velo = Pudor, respeto. 3) Por influencia del Concilio Vaticano II, que defendía una versión del acto de la Primera Comunión más austero y comprometido, mucho más íntimo y reflexivo, alejado del lujo y la pompa tradicionales. 4) De la influencia de las actrices del cine americano (incluso la peculiar iluminación de las escenas) de los modelos reflejados en la prensa de entretenimiento (hijas de famosos y famosas) y del estilo propio que marcan los fotógrafos al pedir que sus protagonistas se coloquen en poses determinadas. 5) No. Reproducen simbólicamente los mandatos sociales de género respectivos: Con frecuencia, las niñas posan con la mirada baja, la cabeza inclinada, gesto serio o contemplativo, etc.; mientras que los niños presentan a veces posturas incluso arrogantes, mostrando mucha más seguridad, autoestima y suficiencia. 6) En el caso de España, aunque la edad ha ido aumentando de los 5-6 años a los 9-10 en la actualidad (coincidiendo, como solía decirse, con el supuesto advenimiento de la “edad de la razón” en las criaturas), en el caso de Brasil, el espectro de edades para celebrar la Comunión siempre ha sido mucho más abierto, de ahí que encontremos imágenes de chicas bastante mayores de lo habitual en nuestro país. Por otro lado, la dispersión geográfica brasileña en ocasiones hacía que las fotos fueran tomadas mucho después del acontecimiento, cuando las familias viajaban a una ciudad o el fotógrafo pasaba por la aldea. O, se aprovechaba para la celebración alguna campaña de adoctrinamiento que obligaba a tomar la Comunión a quienes no lo hubieran hecho aún, independientemente de su edad. 7) Las clases sociales más pudientes se encuentran más representadas en la muestra, puesto que las fotografías son de estudio, un recuerdo caro para muchos bolsillos. En cuanto a la etnia, a pesar de que la población negra en Brasil ascienda a más del cincuenta por ciento de la general, proporcionalmente son escasísimas las imágenes halladas en los anticuarios, quizá por motivos económicos asociados igualmente o porque no hayan querido desprenderse de ellas al tratarse de un objeto aún más valorado. 8) Sobre todo, a la aparición en los hogares de las cámaras de fotos, cada vez de mayor calidad, lo que ha hecho abandonar en parte la costumbre de las fotos de estudio, en aras de los reportajes caseros, que ya difícilmente acaban en tiendas de viejo, porque se las aprecia menos desde fuera. 


A Exposição foi muito bem aceita pela comunidade acadêmica da Universidade de Sevilha e despertou interesse no Brasil, fazendo com que alguns viajantes para a Espanha, nesse período, incluam Sevilha no roteiro a fim de visitar a Exposição no Museu Pedagógico da Faculdade de Ciências da Educação da Universidade de Sevilha. 


Além do Museu Pedagógico da Faculdade de Ciências da Educação, durante a missão de estudos e investigação na Universidade de Sevilha, tive a oportunidade de conhecer e pesquisar em dois outros Museus Pedagógicos em cidades distintas: o Museo Pedagógico de la Universidad de Huelva, na cidade de Huelva, onde participei do seminário intitulado “La recuperación y estudio del patrimonio educativo”, celebrado no dia 08 de novembro de 2021 em sua sede; e o Museo Andaluz de la Educación, que pertence a Câmara Municipal de Alhaurín de la Torre, e tem o objetivo de mostrar as pessoas, os instrumentos e as ideias que desempenharam um papel na dupla e recíproca tarefa de ensinar e aprender. Trata-se de um espaço dedicado não só à memória, mas também à investigação e ao trabalho dos profissionais. O principal objetivo deste Museu é ser um centro de referência, em tudo o que se refere à educação e que, para além disso, seja um lugar de memória e presença do passado, além de um fórum de questões educacionais atuais. O MAE possui diversas salas de exposição, uma sala de conferências e projeções, uma biblioteca, um arquivo e um parque infantil para atividades com os visitantes. Nele tive oportunidade de visitar além do acervo exposto, o material existente nos arquivos, destacando-se a realização da digitalização de 8 álbuns de aulas de atividades domésticas como bordado, disciplina ofertada às meninas em meados do século XX. Sendo esse material muito semelhante ao existente no acervo do NHEMPE, relativo a essa disciplina em escolas femininas brasileiras, iniciamos, juntamente com o professor Pablo Álvarez Domínguez, uma investigação sobre o referido material, suas autoras, período, condições de produção, semelhanças e distanciamentos entre os ensinamentos femininos que ocorriam nos dois países, Brasil e Espanha. Dessa forma, a visita ao Museo Andaluz de la Educación se converteu em fundamental para o andamento da pesquisa entre as características educacionais de gênero e religião no Brasil e na Espanha.


Ainda na Universidade de Sevilha, a convite da Vice-reitora de Orientação Acadêmica, professora Cristina Yanes Cabrera, do Diretor Geral de Cultura e Patrimônio, professor Luis Méndez Rodriguez, e do Diretor Secretário do Patrimônio Histórico Artístico, Luis F. Martinez- Montiel, participei da sessão de abertura da Exposição IMAGO MUNDI - LIBROS PARA TIEMPOS DE BARBARIE Y CIVILIZACIÓN. A exposição Imago Mundi foi aberta ao público no dia 08 de novembro e poderá ser visitada até 25 de fevereiro. É considerada uma das exposições mais ambiciosas realizadas pelo Centro de Iniciativas Culturais da Universidade de Sevilha. A cerimônia de abertura contou com a presença do reitor da Universidade de Sevilha, Miguel Ángel Castro, e do arcebispo emérito de Sevilha, Dom Juan José Asenjo, além dos dois curadores da mostra, Luis Méndez, Diretor Geral de Cultura e Patrimônio e o Diretor da Secretaria do Patrimônio Universitário, Luis F. Martínez-Montiel. O percurso desta exposição mostra a história do livro como uma história paralela à da própria humanidade: o livro como “o depositário do conhecimento, a base da civilização e um elemento que deu forma à vida, à representação e à transformação do território e das cidades. Imago Mundi reúne quase 200 obras, antigas e contemporâneas e de formatos muito diversos: livros, mapas, pinturas, esculturas, utensílios relacionados com a escrita ou a navegação. Cerca de cinquenta por cento das peças pertence ao acervo da Universidade de Sevilha e dez delas foram restauradas para a ocasião. As restantes obras foram emprestadas por 36 museus e instituições nacionais e internacionais, entre as quais o Mosteiro de El Escorial, a Catedral de Sevilha, a Biblioteca Nacional, o Museu Reina Sofia, o Observatório Real da Marinha de San Fernando, o MOMA em Nova York, a Universidade de Stanford ou a Biblioteca Britânica.


A exposição está dividida em quatro seções e uma sala introdutória onde se encontram diferentes representações de Babel de Curro González, Guillermo Pérez Villalta ou Athanasius Kircher, escritos de Séneca e um incunábulo de Aristóteles do século XV. Também há nesta sala a cópia do Imago Mundi, que dá nome à exposição. É um livro do prelado e teólogo francês Pierre d'Ailly que resume a cosmografia, a geografia e a astronomia da primeira metade do século XV, uma edição incunábula de propriedade de Cristóvão Colombo, com notas manuscritas do almirante e seu irmão Bartolomeu. O 'San Isidoro' de Bartolomé Esteban Murillo também está exposto nesta sala, emprestado da casa capitular da Sé da Catedral de Sevilha. A primeira seção é chamada “A cidade e os livros” e destaca as cópias originais dos tratados de arquitetura de Vitrubio, Serlio, Palladio ou Vignola, uma primeira edição da Gramática de Elio Antonio de Nebrija, e uma grande coleção de trompe l'oeils ou o índice do livro que constituiu a Biblioteca de San Acácio. A segunda seção, “A Palavra Revelada”, exibe o San Jerónimo de José de Ribera pertencente à Colegiada de Osuna, bem como um volume da Bíblia do Urso de Casiodoro de Reina (o primeiro traduzido para o espanhol, em 1622), e a Bíblia de Gutemberg, um dos tesouros bibliográficos mais valiosos da coleção Hispalense.


 


O terceiro espaço é o controle de memória, “O naufrágio do papel”. Neste espaço, é apresentado como “a humanidade gastou quase tanto tempo destruindo livros quanto fazendo e guardando-os”. Para isso é mostrado o chamado 'Livro do Perigo' do chinês Cai Guo-Quiang, cujos desenhos são feitos com uma mistura de cola e pólvora que pode queimar com os fósforos, que o próprio artista tem na lombada do volume. Mostram-se também os chamados livros feridos de Anish Kapoor ou o tiro de Idoia Zabaleta. Também estão em exibição a fotografia tirada por Gervasio Sánchez da destruída Biblioteca de Sarajevo, as cópias de enciclopédias e tratados científicos de Newton e Alfonso X com rasuras dos censores ou com páginas rasgadas, e a instalação de Joan Fontcuberta, Fahrenheit 451, em que o Fotógrafo e artista catalão documentou a queima de 451 exemplares de diferentes edições do famoso livro de Ray Bradbury. A seção final é “A Jornada dos Livros”, dedicada a representar como os livros expandiram o conhecimento do mundo, tanto geograficamente, quanto do ponto de vista do conhecimento. Uma edição manuscrita de As viagens de Marco Polo do século 15, dois globos terrestres e celestes do século 18 e 1840, o tratado de Petros Apianus Astronomicum Caesareum, são algumas das peças que o compõem. A obra Detritus (2006) é relevante neste espaço, além de uma mala com páginas de revistas, desenhos, fotografias, cartas e notas de Francis Bacon, uma “metáfora da viagem” que representa toda a vida. A exposição se encerra com alguns versos de Pablo García Baena, E a manhã ao sol, ao lado do barco/lendo o mesmo livro dos meus dias, e um tijolo encontrado em Itálica e preservado no Museu Nacional de Arqueologia, onde alguém, há séculos, registrou os três primeiros versos da Eneida. 


Cabe ressaltar ainda, ao chegar a Universidade de Sevilha, no primeiro dia da missão, 03 de novembro de 2021, ter participado nos três dias seguintes das atividades de encerramento e desmontagem da Exposição NÓS FAZEMOS CIÊNCIA - PROJETO CHON - MUDANDO HORIZONTES PARA ORIENTAR MENINAS CIENTISTAS. O foco dessa Exposição era estimular a atuação de mulheres nas ciências, por meio da apresentação de exemplos de mulheres que fizeram a diferença em suas áreas.  Para tanto, propunha-se a abordar a ciência a partir de uma perspectiva de gênero, uma vez que continua a ser observado que, embora as mulheres sempre tenham produzido conhecimento, elas precisam de visibilidade e reconhecimento social, isso porque: 1) apenas 12% das referências científicas na internet correspondem às mulheres pesquisadoras, em comparação com 88% das menções de pesquisadores do sexo masculino; 2) a ausência de mulheres cientistas nos livros escolares também é uma evidência esmagadora, uma contradição flagrante com o fato de que as leis promovem a igualdade de gênero em todas as escolas; 3) as carreiras científicas e técnicas ainda são majoritariamente masculinas (10,82% das mulheres em Engenharia da Computação, e 13,76% em Engenharia Eletrônica); 4) 63% dos cidadãos acreditam que as mulheres não são cientistas de alto nível (pesquisa europeia L'Oreal Foundation, 2015). Isso indica que a ciência não é neutra, mas muitas vezes é tendenciosa por estereótipos e arquétipos sociais, por um androcentrismo que marcou sua história, excluindo dos conteúdos acadêmicos muitas contribuições elaboradas pelas mulheres na ciência. Além disso, em grande parte, há um modelo hegemônico de explicação, essencialmente masculino, que contribui para a transmissão desses estereótipos de gênero refletidos no currículo e nos livros didáticos. Isso pode gerar falta de identificação de meninas e mulheres com a ciência, especialmente devido à escassez de referências da genealogia feminina. Por isso, torna-se necessário, para incentivar suas vocações, promover na formação inicial dos professores uma formação científica mais equitativa, que analise criticamente questões políticas e epistemológicas sobre como o conhecimento científico é construído. O estudo da História da Ciência através da pesquisa biográfica de mulheres cientistas é uma ferramenta eficaz para isso. Nesse sentido, a Exposição se propunha a exibir a biografia de mulheres na ciência de várias nacionalidades e, também, com uma seção dedicada a cientistas espanholas. Entre as cientistas mostradas na Exposição destacam-se: Tewhida Bem Sheikh, a primeira mulher muçulmana do norte da África a tornar-se médica e ginecologista. Foi pioneira no campo do planejamento familiar (Ginecologista, 1909 – 2010); Margaritas Salas Falgueras, promoveu a pesquisa espanhola no campo da bioquímica e biologia molecular, especialmente reconhecida por seu estudo da DNA polimerase P29 do vírus bacteriófago, que tem uma aplicação crucial (Bioquímica, 1938-2019); Irène Joliot-Curie, filha de Marie Curie, que ganhou o Prêmio Nobel de Química por seu trabalho sobre a síntese artificial de elementos radioativos (Química. 1897 – 1956); Alice Miller, muito influente no estudo da violência na educação. Ela denunciou os métodos parentais que prejudicavam as crianças ou não atendiam às suas necessidades (Psicóloga, 1923 – 2010); Wangari Maathai, Bióloga e professora de anatomia, que venceu o Prêmio Nobel da Paz em reconhecimento da sua contribuição para o desenvolvimento sustentável (Bióloga, 1940- 2011); Margaret Mead, uma antropóloga altamente respeitada, que ajudou definir padrões culturais e promover a antropologia humanística (Antropóloga, 1901 – 1978); Blanca Catalán de Ocón, primeira botânica espanhola. Criou um pequeno herbário com plantas de Albarracín, algumas de espécies desconhecidas, reconhecida por numerosos botânicos e tendo seu nome inscrito na nomenclatura científica universal (Botânica, 1822 – 1899); Mª Amparo Pascual López, primeira bioestatística cubana, fundadora e diretora até 2014 do Centro Nacional Coordenador de Ensaios Clínicos de Cuba, quando ela se tornou diretora do Sistema de Avaliação da ética em pesquisa (Bioestatística, 1944); Rosalind Franklin, química e cristalógrafa de raios-x, foi fundamental na descoberta da estrutura do DNA. Além disso, foi uma das pioneiras na análise molecular de vírus (Química, 1920 – 1958); Lise Meitner, contribuiu significativamente para o avanço no conhecimento sobre radioatividade e física nuclear (Física, 1878 – 1968); Dorothy Hill, contribuiu significativamente para a paleontologia dos invertebrados, particularmente corais. Foi a primeira professora em uma universidade Australiana (Geóloga, 1907 – 1997); Dian Fossey, fez descobertas importantes no comportamento do gorila. Ela também fez campanha por sua profissão e lutou contra a caça clandestina (Primatologista, 1932 – 1985); Nettie Stevens, foi uma das primeiras cientistas a descobrir os cromossomos X e Y e seu papel na determinação do sexo (Geneticista, 1861 – 1912); Mary Kenneth Keller, religiosa e matemática, foi pioneira na informática. Participou da criação da linguagem de programação BASIC (Matemática, 1913 – 1985); Katherine Johnson, foi pioneira na ciência espacial e na ciência da computação. Ela calculou a trajetória do voo da Apollo II até a lua (Matemática, 1918 – 2020); Roce Lynn Margulis, conhecida por sua teoria da simbiogênese, que descreve como as células eucarióticas passaram a conter algumas organelas ao redor de outros tipos de células femininas (Bióloga, 1938-2011); Reo Chien-Shung Wu, fez importantes descobrimentos relacionados à radioatividade. Ela participou do Projeto Manhattan, criou o experimento Wu e aprimorou os contadores Geiger (Física, 1912 – 1997); Elizabeth Kenny,  enfermeira que promoveu um novo tratamento para a poliomielite baseado em exercícios, o que contribuiu para a criação da fisioterapia (Enfermeira, 1880 – 1952); Lise Meither, descobriu a fusão nuclear e contribuiu significativamente para o avanço do conhecimento sobre radioatividade e a física nuclear (Física, 1878-1968); Maria Montessori, queria elevar a educação ao nível da ciência. Desenvolveu métodos de ensino Montessori e foi indicada 3 vezes para o prêmio Nobel da Paz (Médica, psicóloga e pedagoga, 1870 – 1952); Ada Lovelace, foi a primeira programadora de informática. Escreveu o primeiro algoritmo para a máquina analítica de Charles Babbage (Matemática, 1815 –1852); entre outras. 


Diante do exposto, ressalto como muito produtivas todas as atividades observadas, partilhadas e realizadas na Universidade de Sevilha, e, ainda, a importância da troca de experiências que o convívio com professores estrangeiros proporcionou a minha formação, bem como as excelentes oportunidades de investigação que compartilhei em distintos Museus durante esse período de missão CAPES Print, atingindo plenamente os objetivos de internacionalização de conhecimentos, pesquisas e práticas docentes. Em anexo a esse documento encontram-se os comprovantes das atividades citadas.


Saída: 22/10/2019
Chegada: 06/11/2019



Descrição do início das atividades:


Cheguei à cidade de San Luis Potosi (México) ao final da noite do dia 22 de outubro de 2019, após duas conexões, sendo uma em São Paulo e a outra na Cidade do México. As atividades iniciaram no dia 23 de outubro, quando me dirigi ao Colégio de San Luis (Colsan) para me encontrar com a Professora Oresta Lopez e sua equipe do Laboratorio de Género Interculturalidad y Derechos Humanos de El Colegio de San Luis Ac que iniciava um curso de Capacitação promovido pelo Programa de Capacitación de Operadoras y Operadores del Servicio del Transporte Público. Ao longo dos dias 23 e 24 de outubro integrei o grupo participando de todas as atividades desenvolvidas ao longo do dia. As atividades visaram sensibilizar e construir conhecimentos junto aos futuros formadores de operadores de transportes públicos de San Luis Potosi. O Curso foi ministrado por professores especialistas nas discussões relativas às temáticas associadas às concepções de gênero, de masculinidade, de identidade de gênero, dos direitos humanos e das mulheres, da violência e do patriarcalismo, entre outras questões. Durante a participação no evento foi possível refletir acerca dos diferentes tipos e modalidades de violência de gênero e feminicídio, com especial atenção para o contexto histórico de San Luis Potosi. Embora com ênfase local e nacional, as discussões permitiram-me refletir e expor algumas questões em torno da situação do Brasil.  


No dia 25 de outubro, teve início o Seminário Internacional: Diálogos Interdisciplinar sobre Metodologías Interdisciplinar de la Investigación Educativa en México y Brasil, coordenado pela Professora Doutora Oresta Lopez (Laboratorio de Género Interculturalidad y Derechos Humanos de El Colegio de San Luis Ac). Na perspectiva de consolidar discussões em torno dos problemas emergentes da educação com enfoque interdisciplinar no âmbito da História e da Antropologia da Educação, o seminário coroou as alianças e articulações que vêm sendo construídas entre os investigadores do México e do Brasil, desde o ano de 2001. A proposta para o evento iniciado no dia 25 de outubro de 2019 é o de promover intercâmbio entre pesquisadores consolidados e em formação em que se possam discutir os avanços das investigações na esfera da educação, com especial atenção para os aspectos metodológicos e temáticos a nível local, nacional e internacional.


Deste modo, participei da seção de abertura do evento com a apresentação do trabalho A infância como utopia republicana: assistência, proteção e educação na cidade do Rio de Janeiro/Brasil de 1890 a 1940, como parte  dos investimentos de pesquisa que venho realizando no Núcleo Interdisciplinar de Pesquisa em História da Educação e Infância (NIPHEI), do Laboratório que coordeno na Universidade do Estado do Rio de Janeiro desde o ano de 2007. No dia foram apresentados os trabalhos de doutoramento de Rony Rei do Nascimento Silva e a experiência de criação audiovisual dirigida por Fortunada Velazquez, intitulada Desarraigo. O Seminário Internacional continuou no dia 04 de novembro onde pude participar com a apresentação de documentário produzido por mim e minha equipe de investigação na UERJ. A seção intitulou-se Debate em torno da produção do vídeo-documentário Os eternos Errantes da Cidade: infância, menoridade e pobreza no Rio de Janeiro. Na seção foram apresentados os trabalhos de pós-doutoramento de Adriana Zavala Alvarez e de Jenifer Eckerly Goss. Além destes dois dias de atividades, o Seminário se desdobrará nos dias 13, 14 e 19 de novembro, no Brasil, com a participação da Professora Oresta Lopez nos grupos de pesquisa coordenados pelas professoras Lia Faria, Ana Chrystina Mignot e por mim.  


No dia 26 de outubro, participei do encerramento do curso de capacitação que ocorreu nos dias 23, 24 e 26 de outubro. Além da aula de encerramento foi apresentada uma peça de teatro cujo tema versava sobre a violência contra mulheres. Após a apresentação participei com a professora Oresta de reunião avaliativa do trabalho e, em especial do esquete teatral que irá circular por diferentes localidades em San Luis Potosi.


No dia 27 de outubro, fui juntamente com a Professora Oresta e o doutorando Rony Rei conhecer a instituição para assistência o Albergue para proteção de meninas, Casa de Jesus. Por ocasião da visita participamos do encerramento do projeto de construção de programa de rádio com as meninas internas. A experiência possibilitou ouvir relatos das internas acerca de suas experiências de vida e de internação, bem como relato das famílias. 


Após o almoço participamos de ato público Memorial ciudadano para Karla y para todas as víctimas de feminicidio na Plaza de Armas cerimônia na Igleja de San Sebastian. Na ocasião pudemos ouvir relatos de casos de feminicidio apresentado por familiares e por organizações que lutam pela defesa das mulheres.


No dia 28 de outubro, percorri com a professora Oresta instalações do Colegio, podendo apreciar uma exposição de fotografias construída pelo Laboratório coordenado pela professora. No dia 29 de outubro percorremos centros culturais, museus, praças e teatro de San Luis Potosi. No dia 29, à noite, fomos para a cidade de Santa Maria del Rio, onde pernoitamos para poder participar no dia 30 de outubro às 7 horas da manhã de aula e festejos de celebração dos dias dos mortos na Escuela Primaria Niños Héroes, na localidade de El Pueblito. É uma escola multigrado bidocente que atende a 35 alunos sob a regência das professoras Rosa Elena Salazar Meléndez y Ma Reyna Ruiz Martínez. Ao termino da aula que pudemos acompanhar nas salas de aula, participamos da cerimônia do dia dos mortos e almoçamos na escola.  Após o encerramento das atividades fomos conhecer o Museu e ateliê dos artesãos que funciona na praça da cidade.


No dia 31 de outubro realizamos a partir das 9 horas da manhã visita a duas escolas urbanas de características e tamanhos distintos, acompanhada pela pós-doutoranda Adriana Alvarez. Pudemos passar o dia na Escuela Primaria Tomasa Estévez, com a recepção da diretora Maria Eugenia Meléndea Rangel e a Escuela Primaria Sebastian Lerdo de Tejada, acompanhados pela diretora Silvia Elena Diaz de León Juárez. Na ocasião pudemos trocar experiências acerca das experiências brasileiras e mexicanas de educação, bem como conhecer as instalações, algúns professores e alunos e acompanhar os festejos.


No dia 01/11, fui para a cidade do México. Após sete horas de viajem de ônibus fui visitar o Edifício Sede da Secretaria de Educação Pública, localizado no Centro histórico da cidade. Além da suntuosidade e do valor historico de sua arquitetura pudemos visitar algumas exposições importantes acerca da história da educação mexicana, da experiência das educadoras rurais e das capas de diferentes livros didáticos ao longo do tempo. Impressiona sobremaneira os murais pintados por Diego Rivera realizados de 1923 a 1929 que se encontram distribuídos e decoram a construção. Os murais registram aspectos da história mexicana.


No dia 02 de novembro, realizei visita a centros culturais, praças, igrejas e, especialmente ao Museu de Antropologia. No dia 03/11 fui conhecer  as pirêmides do Sol e da Lua na cidade de Teotihuacan, bem como a Basílica de Nossa Senhora de Guadalupe. Experiência que nos permite captar a cultura do povo mexicano. No dia 03 de novembro retornei a San Luis de Potosi. No dia 04 de novembro participei no Colegio San Luis das atividades descritas. No dia 05 de novembro embarquei em San Luis chegando no Brasil em 06 de novembro de 2019. 


As ações iniciadas com a viagem serão desdobradas, nas próximas semanas, com a vinda da professora Oresta Lopez ao Rio de Janeiro/Brasil. Teremos a possibilidade de dar continuidade as conversas e trocas iniciadas, ampliando os interlocutores, tendo em vista a participação de orientandos de graduação, mestrado e doutorado dos Programas de Pós-Graduação que participo na Universidade do Estado do Rio de Janeiro, bem como de colegas professores que participam do Núcleo Interdisciplinar de Pesquisa em História da Educação e Infância (NIPHEI). 


No dia 13 de novembro estará realizando visita a Faculdade de Formação de Professores de São Gonçalo (FFP/UERJ). Na ocasião participara de encontro com o grupo de pesquisa que coordeno e palestra aberta aos alunos e professores da instituição.


          Rio de Janeiro, 08 de novembro de 2019
          Sônia de Oliveira Camara Rangel


 


Saída: 13/10/2023
Chegada: 22/10/2023



Descrição do início das atividades:


A missão foi realizada no período de uma semana tendo como objetivo dar consequência ao trabalho realizado pela docente junto ao Centre de Recherches sur le Monde Contemporain como professora visitante. Iiniciado em dezembro de 2019, o trabalho foi interrompido em função da pandemia de COVID-19. Nesta missão foi possível discutir com a professora Marguerite F. Monthus as entrevistas coletadas naquela ocasião bem como esboçar livro coletivo que em novo projeto de trabalho conjunto. Ademais, a professora teve oportunidade de discutir sua pesquisa com alunos da pós-graduação, master I.


Para além do trabalho realizado com a profa. Marguerite F.-Monthus, o trabalho contou com a colaboração do professor Charles Mercier, , do INSPE de l’académie de Bordeaux, Institut National Supérieur de Formation du Professorat et de l’Éducation, a quem fui apresentada pela profa. Marguerite.


Em tão curto espaço de tempo foi possível trabalhar com dados coletados anteriormente e organizar projeto de livro coletivo que  será composto por 8 capítulos do lado francês e 8 capítulos do lado brasileiro, focando os lugares e as marcas das religiões na cidade e as suas funções educativas, socializadoras e pedagógicas. Isto remete-nos para o trabalho de Medeiros Neta (2010, p. 213), que sublinhou em que medida a cidade pode ter uma dimensão socializadora.


A questão dos lugares convoca a geografia e a história e remete para uma abordagem do espaço e, neste caso, para uma apropriação da cidade. Procuraremos estes lugares à maneira de Pierre Nora). Podem ser tangíveis ou intangíveis, podem cobrir uma grande ou pequena área, podem ser representados por um livro, uma revista, uma escola, um edifício, um grupo de indivíduos ou uma figura emblemática da educação. A dimensão urbana ajuda-nos a compreender melhor como a religião, através da educação, pode tornar-se um marcador cultural e social, um criador de identidade.. Ajuda-nos a compreender como certas zonas mudaram ao longo do tempo e como certos estabelecimentos, como o colégio jesuíta de Bordéus, mudaram de localização. Se as três grandes religiões monoteístas são evocadas, nomeadamente através do diálogo inter-religioso,, vamos concentrar-nos na influência das minorias que sempre contribuíram para o dinamismo intelectual e económico da cidade. 


Estas religiões são espaços de construção de sentido e as pessoas que a elas aderem contribuem para a construção do mundo social (Setton, 2008). Não é ambição deste livro discutir todas as religiões. O objetivo é compreender a produção, a difusão e a recepção de símbolos e imagens nas cidades de Bordéus e do Rio de Janeiro.



Calendário das principais atividades realizadas:


16/10/2023 –Tradução de novo projeto para o francês. Organização da palestra para alunos do Master I.


17/10/2023 – Reunião com profa. Marguerite Figeac-Monthus (Universidade de Bordeaux) e Charles Mercier (INSPE) – discussão do projeto de pesquisa; Visita ao Museu de Antropologia, estudo de peças da América Latina.


18/10/2023 – Palestra aos alunos do Master I: Empreintes des écoles catholiques au Rio de Janeiro; Reunião com Charles Mercier, elaboração da chamada para o livro coletivo.


19/10/2023 – Reunião com Marguerite F.-Monthus, elaboração da chamada para o livro, composição dos participantes; trabalho com entrevistas.


20/10/2023 – Reunião com Charles Mercier, organização e discussão dos participantes.



 


Saída: 03/12/2019
Chegada: 12/05/2020



Descrição do início das atividades:


Estabelecer uma nova parceria de trabalho exige tempo e discussão. Os contatos travados entre mim e a professora Marguerite Figeac-Monthus antes de minha chegada a Bordeaux limitavam-se a mensagens por email. Não nos conhecíamos pessoalmente e minha chegada a Bordeaux implicou em alguns encontros para discutirmos nossos projetos e afinarmos as questões de pesquisa.


Feitos os primeiros ajustes, fui apresentada ao grupo de pesquisa e a outros professores da Universidade. A professora Figeac-Monthus e seu grupo do Centre d'Études du Monde Moderne et Contemporain realizaram, durante o período em que estive em Bordeaux, inúmeros seminários de pesquisa dos quais participei. A interdisciplinaridade é uma marca do programa e do grupo. Desse modo, contribuíam na discussão de meu objeto de pesquisa geógrafos, antropólogos e historiadores.
Durante o período foi possível colaborar na elaboração do projeto Innovations pédagogiques et patrimoines éducatifs au XXIe siècle en Nouvelle Aquitaine.  A aprovação do projeto para o próximo ano indica a continuidade de minhas trocas com o grupo.


Como cheguei com o ano escolar iniciado em setembro, não houve possibilidade de organizar atividades com as/os estudantes nos primeiros meses. Estas estavam previstas para realização a partir de março. Contudo, não tiveram lugar em função da pandemia e do confinamento decretado pelo governo francês a partir de 17 de março, seguido de medidas mais restritivas nas semanas seguintes. 


As atividades realizadas estiveram voltadas para a pesquisa, como se verá no calendário. É preciso frisar que a situação de pandemia, embora não tenha interrompido o trabalho totalmente, prejudicou significativamente seu andamento. Com a morte rondando, a perda de pessoas próximas ou o adoecimento de familiares, o impacto no trabalho intelectual foi considerável. Congressos foram adiados, aulas, seminários e palestras agendadas foram canceladas. Ainda assim, a pesquisa pôde continuar e o contato com a professora Figeac-Monthus manteve-se regularmente à distância. A professora Anne-Marie Meyer, geógrafa da equipe, deu prosseguimento ao trabalho que vínhamos realizando com o software QGIs também à distância. 



Calendário das principais atividades realizadas:


09/12/2019 – Reunião com Marguerite Figeac-Monthus.


16/12/2019 – Apresentação ao Grupo de Pesquisa.


06/01/2020 a 20/01/2020 – Archives Departamentales de la Gironde, pesquisa


10/01/2020 – Reunião para organização da Semana da América Latina, promovida pela prefeitura de Bordeaux, convite para proferir palestra e compor mesa redonda (a data fixada foi 26/05 e não foi realizada).


21/01/2020 – Reunião com o diretor do Collège Saint-Joseph de Tivoli, Louis Lourme e Marguerite Figeac-Monthus.


22/01/2020 – Entrevista com Annie Tobie, organizadora dos arquivos do Tivoli.


23/01/2020 a 26/02/2020– Trabalho nos arquivos do Tivoli.


13/02/2020 – Reunião com Anne-Marie Meyer, geógrafa.


17/02/2020 – Reunião com o presidente da Associação Parc Bordelais, Monsieur Philippe Lemmelletier, e com o Conselho com vistas ao apoio da Associação para realização de entrevistas com moradores do bairro. 


09/03/2020 – Reunião com representantes da prefeitura para Semana da América Latina – suspensão das atividades.


11/03/2020 – Última reunião presencial com Anne-Marie Meyer. 


17/03/2020 – Decretado confinamento em toda a França. Atividades suspensas na Universidade de Bordeaux por tempo indeterminado. Suspensos os seminários que deveriam ser conduzidos por mim junto aos estudantes.


26/03/2020 a 27/03/2020– Neste período deveria acontecer o Colloque Faire la Ville: penser et représenter la production urbaine (Saint-Etienne). Suspenso, aconteceu virtualmente em outubro de 2020. 


15/04/2020 – Reunião virtual com Marguerite.


26/05/2020 – Participação em banca de qualificação de doutorado.


30/03/2020 a 08/05/2020 – Realização de entrevistas a distância e presencialmente em períodos de suspensão do lockdown. 


 


Relatório Missão CAPES PrInt México


Docente: Alexandra Lima da Silva
Período: 31/08/2022 a 16/09/2022



A missão realizada durante o período de 31/08/2022 a 16/09/2022, junto ao Grupo de trabalho: Educación, mujeres y sociedade, coordenado pela doutora Blanca Susana Vega, docente da Universidad Autónoma de San Luis Potosi, integrou o marco dos 50 anos de existência da Facultad de Psicologia da mesma universidade. 


Durante o período de 15 dias de missão, participei intensamente do Seminário Interdisciplinario: Tramas de la educación, desafíos de la psicología y demandas en la sociedad, o qual contou com diversas atividades acadêmicas e de divulgação científica, incluindo: conferências, atividade de ensino na Programas de Mestrado em Educação, Mestrado Interdisciplinar em Estudos para a Paz, Mestrado em Direitos Humanos e na Doutorado em Psicologia. Também apresentei livros e meus trabalhos de pesquisa no campo da História da Educação, com especial atenção à divulgação dos  resultados das  pesquisas que venho desenvolvendo, as quais contam com financiamentos e apoios do CNPq, FAPERJ, CAPES e UERJ.  Também participei de reuniões com grupos e instituições de pesquisa, secretarias de educação e de promoção cultural. 


A partir da missão realizada, pude estabelecer diálogos e trocas com acadêmicas de diferentes áreas: História da Educação, Psicologia, Direitos Humanos, Sociologia da Educação, Antropologia da Educação, Educação Inclusiva, dentre outras. A experiência reforçou o entendimento que tenho a respeito da importância de uma aproximação maior entre as diferentes áreas das Ciências Humanas, com destaque para a riqueza das conversas e perspetivas interdisciplinares. 
Apesar de distintas, as realidades históricas e educacionais de Brasil e México possuem interessantes pontos de conexão, sobretudo no que se refere a importância da educação para a superação de desigualdades sociais.


Nestes 15 dias, pude aprender um pouco mais sobre a estrutura do ensino superior Mexicano, com destaque para os Colégios, com o Colégio San Luis/COLSAN ( em nível federal); as universidades estaduais, como é o caso da Universidad Autonoma de San Luis Potosi e as Universidades para el Bienestar “Benito Juárez García” (UBBJ), criadas em 30 de julho de 2019 com o objetivo de oferecer ensino superior a jovens e adultos que não tiveram a oportunidade de ingressar nas universidades mais requisitadas do país.
Além das atividades relatadas, participei da aula para a turma de graduação de Psicologia, na disciplina de Educação e atenção à diversidade. 
Na mesa especial: Caminhos da educação no México e no Brasil”, apresentei minhas investigações a respeito da temática História da educação e diáspora africana. Acredito que muitos diálogos e podem e devem ser estabelecidos a partir da pergunta: Qual a importância do conhecimento da História da Educação na formação de psicólogos? 
Ressalto, ainda, a importância de visitar escolas públicas da cidade de San Luis Potosi e arredores, com destaque para a Escola Primária Benito Juarez. Villa de la Paz, SLP (Terras Altas de Potosino); Escola Primária Prof. Rafael Ramírez. Capital San Luis Potosí e Escola Los Ninos Heroes, nas quais houve roda de conversa e distribuição de exemplares do livro infantil El viaje de Violeta.


Por fim, gostaria de destacar a importância de se estabelecer e valorizar as redes e trocas acadêmicas em instituições públicas sediadas em países da América Latina, como a frutífera e promissora relação acadêmica e cultura Brasil-México.


Rio de Janeiro, 16 de agosto de 2022



Alexandra Lima da Silva


 


Links


Grupo de Trabajo: Educación, Mujeres y Sociedad


https://www.facebook.com/educacionmujeresFacPsic


UASLP realizará el Seminario Intensivo Interdisciplinario de la Facultad de Psicología


https://planoinformativo.com/869131/uaslp-realizara-el-seminario-intensivo-interdisciplinario-de-la-facultad-de-psicologia/


Participação no Programa de rádio Conexion Universitária


Entrevista para a Rádio da Universidad Autonoma San Luis Potossi


En esta emisión escuchas detalles del: Curso Introducción a la antropología digital con el Dr. Daniel Debo Armenta, docente de la Facultad de Ciencias Sociales y Humanidades. Arranque del Seminario Intensivo Interdisciplinar Tramas de la educación, desafíos de la psicología y demandas de la sociedad con las doctoras Susana Vega Martínez, de la Facultad de Psicología UASLP y Alexandra Lima da Silva, de la Universidad del Estado de Río de Janeiro, Brasil. Inicio del 7º Encuentro de la Red de Radios Universitarias en México.


https://open.spotify.com/episode/3coTqU3i8gr24ayWBYX57s


Conferencia magistral, abertura de Seminario Intensivo Interdisciplinario: Tramas de la educación, desafíos de la psicología y demandas en la sociedad.
10:00 h Título: Mujeres negras y la historia de la educación: trayectorias (in)visibles y plurales (Mulheres negras e história da educação: trajetórias (in)visíveis e plurais)


https://www.instagram.com/tv/Ch-JDvjpn54/?igshid=YmMyMTA2M2Y%3D


Dia 12/09 (Lunes) Mesa especial. Caminos de la educación en México y Brasil


10:00 h


Dra. Alexandra Lima da Silva (UERJ) Historia de la educación y diáspora africana


https://www.instagram.com/tv/Ciad-XToS1z/?igshid=YmMyMTA2M2Y%3D


Você conhece o Peraj? Uma conversa com @ferretiz_lupita


https://www.instagram.com/tv/Cid71iIJNZH/?igshid=YmMyMTA2M2Y%3D

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A missão de trabalho no âmbito do projeto UERJ-CAPES-PRINT foi realizada em
Moçambique. A inserção deste país no projeto se deu por algumas razões que cabe
registrar. A primeira delas remete à cota de países não prioritários, cabendo às
Universidades propor alguns destinos fora do rol previamente estabelecido pelo
referido Programa. Uma segunda remete às experiências de formação pós-graduada
de moçambicanos na UERJ, em particular no PROPEd. Destes, eu tive a honra e prazer
de orientar duas teses de doutorado.


ZIMBICO, Octavio José. “Morre a tribo e nasce a nação?”: Política,
Administração e História do Ensino Primário em Moçambique. 411 páginas, 2016. Tese
(Doutorado em Educação) - Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Coordenação de
Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior/PEC-PG. Orientador: José Gonçalves
Gondra. Disponível em https://www.bdtd.uerj.br:8443/handle/1/10414 Acesso em 13
de out de 2022.


NIUAIA, Sergio Vieira. Escola como campo de batalha: Impressos, Formação de
Professores e Psicologia da Educação em Moçambique (1969-2010). 388 páginas,
2019. Tese (Doutorado em Educação) - Universidade do Estado do Rio de Janeiro,
Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior/PEC-PG. Orientador:
José Gonçalves Gondra. Disponível em
https://www.bdtd.uerj.br:8443/handle/1/10284 Acesso em 13 de out de 2022.


Esta janela de oportunidades me fez aprender muito mais do que os inúmeros
anos passados na Escola e nas vivências fora da escola. Como bom estudante de
geografia, sabia bem a localização do país e aí se encerrava meu saber. A capital, sua
localização, composição étnica e cultura, a vida plural nas 10 Províncias e, sobretudo,
aspectos da história da educação moçambicana se constituem em saberes devidos,
integralmente, ao que pude aprender nas duas orientações referidas.
Uma lembrança ainda mais remota, hiper esmaecida, remetia aos estudos no
campo da história e literatura. A história empobrecida da escravidão colocara
Moçambique como parte da diáspora africana, sem maiores detalhes ou
problematização. Quantos foram traficados? Gênero, idades, tribos, localidades,
preços, funções exercidas no Brasil, mortalidade no trajeto e no destino,...


Ausências, silêncios e invisibilidades, outras faces da violência decorrentes do
instituto da escravidão de africanos/as no Brasil, mas também em outros destinos da
América. Recentemente, por meio de estudos que tenho orientado, com destaque
para as teses de Graciane Sebrão (Educação dos negros em Santa Catarina: narrativas,
expectativas, experiências, 1850-1889, disponível em
https://www.bdtd.uerj.br:8443/handle/1/10389) e Kátia Lopes (“Dai-lhes mestres e
dai-lhes officinas”: o acesso de negros livres, libertos e “sujeitos de pés descalços” à
cultura letrada no Rio de Janeiro oitocentista, disponível em
https://www.bdtd.uerj.br:8443/handle/1/16922), fui provocado a conhecer um pouco
mais das experiências de sujeitos escravizados em Santa Catarina e na Corte Imperial,
respectivamente. Ao mesmo tempo, nos trabalhos realizados na hemeroteca da
Biblioteca Nacional, volta e meia, tenho me deparado com diversas notícias dos
escravizados de Moçambique, material que fornece pistas das condições a que foram
submetidos e de táticas outras empregadas para escaparem do cativeiro. Para se ter
uma breve noção, no sistema de busca da hemeroteca da Biblioteca Nacional, no
período 1820-1829, pós independência do Brasil, há 2498 ocorrências para o termo
“Moçambique”. No Diario do Rio de Janeiro, folha que circulou entre 1821 e 1858, de
acordo com o acervo disponível, há 1685 ocorrências, como as que se seguem.


Imagem 1- Diario do Rio de Janeiro (1 de junho de 1821)
Fonte:
https://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=094170_01&pesq=mo%C3%A7ambiqu
e&pasta=ano%20182&hf=memoria.bn.br&pagfis=4 Acesso em 13 de outubro de 2022.


Imagem 2 - Diario do Rio de Janeiro (5 de junho de 1821)
Fonte:
https://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=094170_01&pesq=mo%C3%A7ambiqu
e&pasta=ano%20182&hf=memoria.bn.br&pagfis=19 Acesso em 13 de outubro de 2022.


Os dois fragmentos remetem e registram procedimentos comuns. De um lado,
a tática da fuga por parte de escravizados/as. De outro, a estratégia de captura,
identificação do proprietários e eventuais recompensas. A vida de moçambicanos e
moçambicanas no Brasil escravocrata se constitui em um capítulo ainda a ser
exaustivamente investigado, de modo a dar a ver as situações a que homens e
mulheres foram submetidos, bem como as táticas mais ou menos inventivas, mais ou
menos organizadas, que mobilizaram para mitigar a condição de escravizado; bem
como as estratégias para manter, intensificar e prolongar o lucrativo comércio de
homens e mulheres do continente africano, bem como a escravidão.
A literatura, por sua vez, me colocou frente aos estudos das “escolas” da
literatura, na qual aparecia, muito apagadamente, a figura de um dos inconfidentes
das Minas Gerais. Trata-se de Tomás António Gonzaga, um português nascido no Porto e que se envolveu em um dos movimentos que culminaram no processo que conduziu
à separação do Brasil de Portugal. Por seu papel na chamada Inconfidência ou
Conjuração Mineira, trabalhando junto de outros personagens dessa revolta como
Cláudio Manuel da Costa, Silva Alvarenga e Alvarenga Peixoto, o portense foi acusado
de conspiração, o que resultou em sua prisão, em 1789, confisco de seus bens
confiscados e reclusão na Fortaleza da Ilha das Cobras, no Rio de Janeiro, na qual
permaneceu por 3 anos. Em 1792, a pena é comutada em degredo, tendo sido enviado
para Moçambique, a fim de cumprir a sentença de dez anos, onde faleceu, sem se
saber precisamente a data. Especula-se que pode ter acontecido por volta de 1809 ou
1810. (cf. https://www.academia.org.br/academicos/tomas-antonio-gonzaga/biografia
Acesso em 13 de outubro de 2022)
Esse conjunto de elementos introduziram Moçambique no horizonte de
formação e de pesquisa, mas tudo isso, com a carga expressiva de conteúdos que
apresenta, é insuficiente para descrever aspectos imateriais dessa experiência. Fora o
fato de ser a primeira vez a pisar em outras ex-colônias portuguesas, havia uma
enorme curiosidade em conhecer mais e melhor esse mundo, ao mesmo tempo
próximo e imensamente distante. Distância que pode ser medida em termos
quantitativos, mas é muito menos fácil dimensionar os aspectos qualitativos da
mesma. Distância física que se amplia nas dificuldades de se chegar a Moçambique,
partindo do Rio de Janeiro. Inexiste vôo direto. O deslocamento implica, no mínimo,
duas conexões; algumas extremamente longas, como a que passa pela Etiópia e Qatar. Consegui comprar uma viagem com escala em Angola, o que possibilitou, ainda que do
alto e de longe, visualizar Luanda, sua bacia, concentrações e desigualdades, algumas
vizinhas ao aeroporto, como se dá no Galeão, no Rio de Janeiro. Essa foi a segunda
parada, já que a primeira se deu em Guarulhos- SP. Nela pude ter o primeiro contato
como angolanos, falantes de língua portuguesa, fora do eixo já conhecido. Homens e
mulheres se expressavam com um acento bem singular, diferente do que já havia
escutado, inclusive dos estudantes moçambicanos. Decorridos cerca de 4 horas de
espera, entrei no avião que me levaria, finalmente, à Maputo.
No aeroporto de Maputo, já no dia 4 de outubro, fui recebido pelo prof.
Octávio José Zimbico que, gentilmente, realizou o traslado até o hotel, onde me
hospedei na parte central da cidade, já com o fuso de 5 horas de diferença em relação ao Brasil. Deste modo, o dia seguinte foi reservado à adaptação e preparativos para as
atividades previstas na jornada que se iniciava.
A missão foi realizada entre 4 e 21 de outubro de 2022, junto à Faculdade de
Educação da Universidade Eduardo Mondlane, no campus da Cidade de Maputo,
capital de Moçambique. As atividades realizadas neste período contaram com a
organização e inúmeras ações do prof. Dr. Octávio José Zimbico, detalhadas na
sequência.


Resumo das atividades:


Data Quinta-feira, dia 06 de Outubro de 2022
Actividade 1 Boas vindas e Palestra
Tema Formação Pós-graduada e Internacionalização
Horas 14.00 as 16.00 horas
Local Sala 300.
Grupo-alvo Estudantes de Mestrado e Doutoramento em Educação, Docentes e Investigadores em Educação na FACED – UEM.
Coordenação Director da FACED – UEM e Directores de Curso de Mestrado e Doutoramento.


Data Sexta-feira, dia 07 de Outubro de 2022
Actividade 1 Biblioteca Central Brazão Mazula
Tema Visita e doação de livros à Biblioteca Central Brazão Mazula da Universidade Eduardo Mondlane
Horas 14.00 horas
Local Biblioteca Central Brazão Mazula
Grupo-alvo ----
Coordenação Prof. Octávio José Zimbico.


Data Segunda-feira, dia 10 de Outubro de 2022
Actividade 1 Palestra
Tema Independência e Instrução pública: um olhar à experiência brasileira – Prof. Doutor José Gonçalves Gondra.
Horas 08.30 – 11.00 horas
Local Sala 300.
Grupo-alvo Estudantes do 1º Ano dos cursos de Licenciatura em Organização e Gestão da Educação e Psicologia
Coordenação Chefe do Departamento de OGED e Directores do Curso de Licenciatura em Organização e Gestão da Educação e Psicologia.


Data Terça-feira, dia 11 de Outubro de 2022
Actividade 1 Defesa de Monografia de Michela Jorge Matavela
Curso: Licenciatura em Organização e Gestão da Educação, com a participação do Prof. Doutor José Gonçalves Gondra como arguente.
Horas 09.30 – 11.00 horas
Local Sala de Reuniões.
Coordenação Chefe do Departamento de OGED e Director do Curso de Organização e Gestão da Educação.


Data Terça-feira, dia 11 de Outubro de 2022
Actividade 1 Defesa de Monografia de Franque José Castigo Lichucha
Curso: Licenciatura em Organização e Gestão da Educação, com a participação do Prof. Doutor José Gonçalves Gondra. como arguente.
Horas 11.00 – 12.20 horas
Local Sala de Reuniões.
Coordenação Chefe do Departamento de OGED e Director do Curso de Organização e Gestão da Educação.


Data Quinta-feira, dia 13 de Outubro de 2022
Actividade Reunião com o Diretor da Faculdade de Filosofia da Universidade de Maputo, prof. José Blaunde
Horas 14.00 – 15.00 horas.
Local Faculdade de Filosofia da Universidade Eduardo Mondlane
Coordenação Prof. Octávio José Zimbico.


Data Quinta-feira, dia 13 de Outubro de 2022
Actividade Pesquisa bibliográfica sobre a Educação moçambicana: História da Educação e Políticas de Educação– Prof. Doutor José Gonçalves Gondra e estudantes do Curso de OGED.
Horas 15.00 – 18.00 horas.
Local Biblioteca Central Brazão Mazula
Coordenação Prof. Octávio José Zimbico.


Data Segunda-feira, dia 17 de Outubro de 2022
Actividade Palestra: Formação de professores/as e história da educação – possibilidades e desafios – Prof. Doutor José Gonçalves Gondra
8:30-11.00 horas
Horas Actividade: Lançamento de livros – Prof. Doutor José Gonçalves Gondra e Octávio José Zimbico.
11.00 – 12.00 horas.
Local Sala 300.
Coordenação Prof. Octávio José Zimbico.


Data Segunda-feira, dia 17 de Outubro de 2022
Actividade Visita a Escola Primária Completa Samora Machel – Prof. Doutor José Gonçalves Gondra.
Tema: Visita
Horas 14.00 – 16.00 horas.
Local Escola Primária Completa Samora Machel – Matola
Grupo-alvo Director da Escola, Director – adjunto, professores e alunos.
Coordenação Prof. Octávio José Zimbico.


Data Terça-feira, dia 18 de Outubro de 2022
Actividade Seminário de Doutorado
Tema: Aula
Horas 16.00 – 19.00 horas.
Local Faculdade de Filosofia da Universidade Eduardo Mondlane
Grupo-alvo Alunos de doutorado
Coordenação Prof. José Blaunde – Diretor da Faculdade de Filosofia


Avaliação das atividades:


Considero que o conjunto de atividades realizadas, diversas, com públicos e
finalidades distintas, permitiu uma aproximação importante com grupos de
professores e alunos de diversos níveis e graus de formação. Aproximação que indica
possibilidades de continuidade das parcerias entre as duas universidades envolvidas,
em especial as duas faculdades de educação e seus diferentes cursos, mas também
com potencial de expansão e de envolvimento de outras faculdades e cursos da
Universidade Eduardo Mondlane. De minha parte, foi um tempo de aprendizagem e
autoformação intensa e extremamente relevante, seja do ponto de vista estratégico,
seja pedagógico.

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Partida: 18.03.2023 


Chegada: 02.03.2023 


Descrição do inicio das atividades 


A missão de trabalho no âmbito do projeto UERJ-CAPES-PRINT foi realizada no Rio de  Janeiro, Brasil. Cabe aqui destacar que a Universidade Eduardo Mondlane, em Maputo,  Moçambique, na qual sou servidor, faz parte das instituições com os quais a  Universidade do Estado do Rio de Janeiro (uma das 36 beneficiarias do Capes-Print)  tem mantido um regular intercâmbio em torno da história da profissão docente e  historiografia. A inserção de Moçambique no projeto se deu por algumas razões que  vale registrar, a primeira das quais remete à cota de países não prioritários, cabendo às Universidades propor alguns destinos fora do rol previamente estabelecido pelo referido Programa. E uma segunda que tem a ver com as experiências de formação pós-graduada de moçambicanos no Programa de Pós-graduação em Educação da UERJ,  que se constituiu em oportunidade de partilha de realidades distintas entre Brasil e  Moçambique, no que diz respeito à organização dos sistemas de educação bem como  em similaridades e diferenças culturais.  


Sob orientação do Prof. Doutor José Gonçalves Gondra, frequentei e concluí o  Doutorado em Educação na UERJ, ao ter defendido, em Novembro de 2016, a tese:  ZIMBICO, Octavio José. “Morre a tribo e nasce a nação?”: Política, Administração e História do Ensino Primário em Moçambique. 411 páginas, 2016. Tese (Doutorado em Educação) - Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior/PEC-PG; disponível em:  https://www.bdtd.uerj.br:8443/handle/1/10414. 


O interesse do Prof. Doutor José Gonçalves Gondra, e outros professores e professoras  do ProPEd-UERJ, pela diversidade etnolinguística e cultural de Moçambique, aliada ao  passado histórico comum do Brasil e Moçambique, a respeito da colonização  portuguesa, foram importantes elementos que impulsionaram o estabelecimento deste  intercâmbio para o fortalecimento de redes de pesquisa, ensino e internacionalização,  o que somente foi possível materializar-se graças ao financiamento da CAPES. 


A linha de pesquisa de Historia da Educação do ProPEd-UERJ tem particular interesse  em pesquisas sobre o tráfico de escravos Moçambique – Brasil, a partir de materiais  que fornecem pistas das condições a que foram submetidos e de táticas empregadas  para escaparem do cativeiro. Apesar da existência desse vasto repertório, vivenciar  experiências que envolvam a deslocação a Moçambique parece o melhor caminho a  seguir, para um levantamento de materiais históricos que permitem aprofundar a  compreensão desse acontecimento histórico envolvendo os dois países.  


A razão da persistência na busca de entendimento entre os povos apoia-se no princípio  de que o mundo atual não passa de uma aldeia global, por força dos modernos meios  de comunicação e da interdependência indiscutível entre as nações. Então, é possível  imaginar que cada uma das nações poderia ter benefícios das contribuições  particulares, porque parte-se do postulado segundo o qual a educação, como  fenômeno social, deve ser considerada em estreita ligação com as estratégias político econômicas e, em especial, em íntima relação com o modelo de sociedade que se  procura criar no país, modelo esse que resulta das realidades existentes em cada país. 


A missão foi realizada entre 18 de Março e 02 de Abril de 2023, junto à Faculdade de Educação da UERJ (Auditório 12037), Faculdade de Educação da UFRJ, Faculdade de  Formação de Professores da UERJ em São Gonçalo, FEBF na UERJ Caxias (Baixada  Fluminense), e na Escola “Senegal”. As atividades realizadas neste período contaram  com a organização e inúmeras ações do Prof. Dr. José Gonçalves Gondra, detalhadas na sequência, a começar pelas atividades programadas I e III, destinadas aos alunos de PG  em Educação na UERJ, e posteriormente as palestras e visita a uma Escola Primária.


1. Diálogos sobre a regulação do Ensino Primário em Moçambique 


Nesta sessão o destaque feito tem a ver com a regulação do Ensino Primário em  Moçambique, em diferentes momentos históricos (colonial, colonial e pós-colonial),  desde as primeiras iniciativas de escolarização primaria na região norte de  Moçambique, pelos jesuítas, no inicio do século XVII.  


De um modo geral se discutiu a política geral, administração e história do Ensino  Primário em Moçambique, independentemente do momento histórico estudado.  Cosntatou-se que este nível de ensino é considerado básico e o reconhecimento da  necessidade de ser acessível a todos. Uma análise das prioridades de acesso,  expansão, equidade, qualidade e relevância, desde as primeiras iniciativas de  constituição do EP no período pré-colonial, mostra que fatores conjunturais têm  influenciado a política e a administração do EP, ao forçarem a revisão dos princípios e  objetivos do ensino, a partir das emendas à legislação e alteração dos modelos de  planejamento e administração. Destacou-se que, à semelhança dos períodos pré colonial e colonial, parte expressiva da população escolarizável continua sem acesso à  escola, o que dificulta o alcance de uma efetiva Educação para Todos, ainda que a  obrigatoriedade do EP tenha sido legalmente instituída a partir do século XIX.


Nos diálogos sobre a regulação foi destacado o carácter dual, discriminatório e  segregacionista da oferta educativa, estabelecido por lei, durante a presença colonial  portuguesa em Moçambique. Com efeito, se a escolarização dos indígenas visava à  “aquisição de hábitos e aptidões de trabalho e preparação de trabalhadores rurais e  artífices”, em um ensino “nacionalista” e “prático” em língua portuguesa.  


Em contraste com esta realidade, a escolarização dos brancos e asiáticos do oriente  médio, através do Ensino Oficial, era confiada aos padres católicos que tinham  conhecimentos e habilidades para o ensino.  


Esta tendência prevaleceu até que em 1940/1941, através de um acordo conhecido  por “Acordo Missionário” entre o Estado português e o Vaticano, a gestão das escolas  acabou sendo conferida legalmente à Igreja Católica. 


Como explica Mondlane, “nos territórios portugueses a educação do africano teve  duas finalidades: formar um elemento da população que agiria como intermediário entre o Estado colonial e as massas; e inculcar uma atitude de servilismo no africano  educado” (1975, p.69). 


2. Reforma e legislação do Ensino Primário em Moçambique 


A segunda sessão das Atividades Programadas I e III foi dedicada à “Reforma e  legislação do Ensino Primário em Moçambique”. O mapeamento das observações  sistemáticas, que incluem lutas, contradições, desavenças e disputas, merece  consideração pelo fato de ser instrumento mais profícuo para desvendar o  desenvolvimento e mudanças das relações entre indivíduos.  


Cronologia dos acontecimentos mais assinaláveis no campo da história (da Educação)  em Moçambique e aparato legislativo do período colonial 


− Chegada dos portugueses, pela primeira vez, em 1498. 


− As primeiras iniciativas de constituição de um sistema de ensino público ter-se ão iniciado cerca de sete séculos depois da chegada do Islã ao território que  hoje é designado Moçambique, tendo sido em 1613, quando foi criada a  primeira escola primária na Ilha de Moçambique – província de Nampula – região norte, pelos jesuítas, destinada ao ensino do catecismo, leitura, escrita e  aritmética para a população “indígena”, escola essa que em 1773 ainda se  encontrava em funcionamento.  


− Em 1766, o Governador-geral Baltasar Pereira do Lago, nomeado por Marquês  de Pombal para a costa oriental de África, entre 1765-1779, fundou outra  escola para o EP na Ilha de Moçambique, na zona norte da colônia.  Contrariamente à primeira, esta destinava-se aos filhos dos portugueses que  não podiam deslocar-se a Goa ou a Lisboa para aprender as primeiras letras.  


− Apesar desta primeira informação, outros documentos referem que a primeira  aula de instrução primária foi instalada na Casa Conventual de S. Domingos da  Ilha de Moçambique, em 1799, por determinação do Governador-geral  Francisco Guedes de Carvalho e Meneses. 


− Cerca de duas décadas depois – precisamente em 1818 – eram fundadas outras  escolas primárias em Quelimane e Ilha do Ibo, nas regiões centro e norte de  Moçambique, respectivamente.  


− Em 14 de Agosto de 1845 – o Ministro de Estado de Marinha e do Ultramar,  Joaquim José Falcão, estabeleceu por decreto as escolas públicas nas colónias.  − Em 30 de Novembro de 1869 o ensino no Ultramar foi reformado por decreto  do Ministro de Estado da Marinha e do Ultramar, Luís Rebelo da Silva, que institui “o Ensino Primário obrigatório, sendo a instrução primária dividida em  1° e 2° Grau, cada um com duas classes. O sistema educativo estava,  principalmente, nas mãos das missões católicas”. 


− Dificuldades locais, negligência e uma organização imperfeita são referidas  como tendo sido responsáveis pela anulação ou paralisação das tentativas do  governo estabelecer um sistema de ensino em Moçambique, de tal sorte que,  em 1873, havia apenas “400 alunos matriculados em todas as escolas, na altura  existentes em Moçambique”.  


− Reconhecendo a necessidade de difundir nas populações “indígenas” a língua  portuguesa e esperando que as missões dessem, para isso, colaboração, o  Governador-geral Freire de Andrade tinha publicado, em 4 de Dezembro de  1907, a Portaria n.° 730, determinando que em todas as escolas de  Moçambique a instrução dos “indígenas” fosse ministrada somente em língua  portuguesa e que nenhum indivíduo, branco ou de cor, podia ensinar nas  escolas sem que soubesse falar bem o português. 


− Na sequência da implantação da primeira república em Portugal, com espírito  liberal, em 1910, foi aprovada, em 20 de Abril de 1911, a lei que separava o  Estado da Igreja e, por consequência, em 22 de Novembro de 1913 foi  aprovado um decreto que criou as missões laicas, que pareciam ter retirado  influência às missões católicas. 


− O Governador-geral Joaquim José Machado mandou suspender o Decreto de  22 de Novembro de 1913 alegando que as missões católicas não podiam cessar  suas atividades, a menos que se encontrassem em pleno funcionamento as  missões laicas. 


− Em 1917 tinha sido criado o Conselho Inspetor da Instrução Pública que, em  1920, viria ser susbstituído pela Inspeção Escolar e, mais tarde, em 1921, pela  Direção-geral do Ensino. Estas podem ser consideradas “primeiras[?] medidas  de índole administrativa para responder às necessidades de organização do  setor educativo”. 


− No período de 1834 a 1926, ano da extinção das missões laicas, também  designadas de missões civilizadoras, o Estado “substituiu-se à Igreja na missão  educativa” com indivíduos laicos e padres seculares como educadores e o 


“pensamento que imprime a orientação política do ensino é opensamento  laico”.  


− No dia 5 de Junho de 1920, pela Portaria n.° 1.527, instituia-se na metrópole o  EP geral, de 5 classes, obrigatório dos 7 aos 12 anos, observando-se os  respectivos programas.  


− Para alfabetizar as outras crianças e iniciá-las no uso da língua portuguesa havia  as missões civilizadoras, criadas em 1919 – pelo Decreto n.° 5.778, de 10 de  Maio – e regulamentadas por um Decreto de 2 de Janeiro de 1920. Uma vez  que estas foram extintas, decorria o ano de 1926, passou a ficar a cargo das  missões religiosas a primeira instrução dos “indígenas”. 


− Reorganizado o ensino na metrópole, pelo Decreto n.° 13.791, de 16 de Junho  de 1927, que havia estabelecido o EP Elementar e o Complementar, publicou se em 8 de Outubro de 1927 o Diploma Legislativo n.° 19, que pôs em vigor em  Moçambique o EP de 4 classes, obrigatório para crianças dos 7 aos 13 anos.  


− Pela Portaria n.° 918, de 6 de Julho de 1929, são-lhe aplicados os programas da  metrópole com as necessárias modificações. 


− O período seguinte é marcado pelo Estatuto Orgânico das Missões Católicas  Portuguesas da África e de Timor (Decreto de 13 de Outubro de 1926, de João  Belo). 


− As iniciativas de adoção de uma política educativa começaram até meados dos  anos 1930, mas com divergências entre a opinião e a prática; resultando numa  política educativa que acabaria por coincidir numa governação centralizadora  de feição direta; anticlerical no plano interno, mas pluriconfessional na  propaganda externa; hesitante, no plano das estratégias de incorporação das  massas africanas; e ambígua quanto ao estatuto que estes podiam assumir no  quadro auxiliar da administração colonial portuguesa. 


− A obrigatoriedade do EP Oficial foi redefinida pela Portaria n.º 8.392, de 31 de  Maio de 1950, ao mesmo tempo que foi regulamentada pela Portaria n.º 8.395,  da mesma data. 


− Nacionalização do Sistema de Ensino: 1975. 


− Criação da Lei do Sistema Nacional de Educação em Moçambique: 1983.


− Rejuste e adequação da Lei do Sistema Nacional de Educação em Moçambique:  1992. 


− Reajuste da Lei do Sistema Nacional de Educação em Moçambique: 2018. Reforma da Educação  


Segundo Ball e Mainardes (2011), o cunho “crítico” da pesquisa das reformas sinaliza  que o objetivo dessas pesquisas consiste em compreender os princípios, o  funcionamento e os efeitos das políticas investigadas, com o cuidado de analisá-las, de  modo aprofundado, evitando assim qualquer forma de autolegitimação; “analisá-las  de uma perspectiva de totalidade, estabelecendo os devidos vínculos com o contexto  mais econômico, político e social, e analisar as relações das políticas com a justiça  social” (p.13). A tabela 1 mostra a legislação aprovada no período pós-independência  de Moçambique, que revela a intenção de rompimento com o sistema colonial  português e a consequente adoção de um projeto educativo nacional para  Moçambique. 


A leitura da legislação e demais documentos normativos aponta para a necessidade da  escola ser um espaço aberto a todos os segmentos da sociedade, orientada por um  ideal que vê a escolarização da sociedade como a única forma de caminhar em direção  ao progresso, desenvolvimento e bem-estar, graças a uma visão educacional da escola  como uma instituição de um ensino mais científica e racional.  


A história do EP em Moçambique devia ser vista como pré-colonial, por ser um  processo anterior à chegada dos portugueses, sob o ponto de vista do  desenvolvimento das habilidades básicas de leitura, escrita e numeracia. Se no período  colonial a escolarização primária era garantida pelo Estado e pelas missões católicas e  protestantes, no período de 1964 a 1974, nas zonas libertadas, a FRELIMO através do  Departamento de Educação e Cultura era responsável pela planificação, organização e  gestão do ensino implementado. Já o período pós-independência divide-se em dois: (i)  o primeiro, em que o Estado era a única entidade responsável pela planificação,  administração e gestão do ensino; e (ii) o segundo, em que o Estado, a sociedade civil e  as instituições multilaterais passaram a conjugar esforços na planificação e  implementação da política educativa. Todavia, os objetivos dos sistemas de ensino  pré-colonial, colonial e pós-colonial tinham, cada um, as suas particularidades. Com  efeito, enquanto no período pré-colonial, as iniciativas de ensino da leitura, escrita e  contagem estavam ligadas ao comércio com povos do Oriente Médio; no período  colonial, sob o argumento da cristianização, civilização e da formação de cidadãos que  fossem úteis a Portugal continental e ultramarino, foi instituído um sistema de ensino baseado na discriminação da população negra, que visava, também, capacitar uma  força de trabalho que satisfizesse interesses econômicos.  


Por sua vez, o ensino implementado pela FRELIMO tinha como objetivo despertar a  consciência nacionalista, levando os moçambicanos a reivindicarem a sua  independência, e que após isso houvesse uma base para a formulação de um novo  sistema de ensino e uma nova sociedade no período pós-independência, os objetivos  do sistema de ensino passavam por libertar a mente dos moçambicanos, através da  formação do “homem novo”, como também faziam parte do projeto da construção da  nação moçambicana. Desta feita, pode-se concluir que a definição dos saberes a serem  pedagogizados e disseminados esteve sempre ligada à estrutura do poder econômico e  político estabelecido, fato que leva os reprodutivistas a rejeitarem uma provável  neutralidade do sistema escolar enquanto um organismo inserido na sociedade em  que funciona. 


3. Reflexão sobre o significado da formação de professores e sua importância na  construção do Estado moçambicano. 


Na 3ª sessão de Atividades Programadas I e III o debate centrou-se no “significado da  formação de professores e sua importância na construção do Estado moçambicano”.  Os destaques feitos centraram-se no projecto educativo moçambicano visto a partir do 


processo de formação de professores, que no período colonial foi segregado e  altamente controlado pelo Estado português, do mesmo modo que com a  independência de Moçambique e sua proclamação em Republica Popular, a formação  de professores passou a ser controlada pelo Estado moçambicano e a ser vista como  indispensável no projeto de construção do Estado.  


Se em termos políticos indubitavelmente o Estado moçambicano, proclamado em  25.06.1975, visava “eliminar as estruturas de opressão e exploração coloniais e  tradicionais e da mentalidade que lhes estava subjacente” (cf. o art.º 4 da CRM de  1975), a segunda categoria, a da “reprodução das relações sociais” estaria, à vista,  sujeita aos interesses dos “órgãos de poder popular” que era suposto dirigirem a  “aliança operário-camponesa”.  


A emergência dos órgãos de poder popular começa, ainda que de forma subtil, a  hierarquizar as relações interpessoais, intra e intergrupais na sociedade; cuja  consolidação permite polarizar os interesses em torno de um ideário comum. Por  exemplo, as estruturas tradicionais que caracterizam Moçambique resultaram de um  longo processo de formação e transformação, tendo sido aceitas pela sociedade  moçambicana; daí que o projeto de formação de um novo Estado não devia,  simplesmente, ter como um dos objetivos “eliminar as estruturas tradicionais”, para  por meio de uma “revolução”, política ou científica, “transformar” e “modernizar” a  sociedade, ainda que tivessem certos aspectos por ultrapassar. Assim, o novo Estado  tomou a educação como instrumento de “combate à situação de atraso criada pelo  colonialismo”.  


O referido atraso incluía o encorajamento da educação tradicional, considerada  responsável pela “paralisação da sociedade moçambicana”, fato que, por sua vez,  “facilitava” o projeto da colonização. Para reverter essa situação, o professor, que no  período colonial era visto como servidor do sistema capitalista português, depois da  independência de Moçambique passou a ser visto como um importante agente do  processo revolucionário da construção da nação moçambicana.  


4. Reflexão sobre o lugar do processo de formação de professores na  implementação da política educativa em Moçambique.  


A 4ª sessão de Atividades Programadas I e III foi dedicada ao debate sobre “o processo  de formação de professores na implementação da política educativa moçambicana”.  Nesse processo, a “escola primária moçambicana” é vista como resultado de  experiências acumuladas, construída e consolidada sob os “princípios universais do  marxismo-leninismo e no patrimônio comum da humanidade” (cf. a Lei n.º 4/83, de 23  de Março). Destaque para o fato de ela surgir como uma negação da escola colonial,  cujas primeiras experiências de organização tinham sido regulamentadas pelo decreto  de 1845, que definia um modelo de escolarização primária próprio para as colônias.  Com efeito, a escolarização primária passou por várias transformações e adotou  modelos suportados por uma legislação que se robusteceu a partir dos anos 1930,  tendo se estendido até a primeira metade da década de 1970, no sentido de  aprimoramento de um sistema de ensino que cumprisse os objetivos coloniais. 


Varios são os objetivos que Moçambique independente definiu para a área de  formaçao de professores. Esses objetivos são a seguir detalhados: 


Lei 4/83, de 23 de Março (artigo 33): 


São objetivos do Subsistema de formação de professores: 


em Moçambique. A primeira configuração do processo de escolarização primária está regulado pelo  decreto de 1845, que divide o ensino em dois níveis (elementar e complementar), hierarquiza os  conteúdos por níveis (ler, escrever e contar, para o nível elementar e Gramática, desenho, geometria e  física prática, para o nível complementar) e separa os alunos por sexos (escolas para meninos e para  meninas). A partir de 1934, a escolarização primária é feita em dois sistemas de ensino paralelos: o  ensino “oficial”, destinado aos filhos dos colonos ou “assimilados”, e o ensino para “indígenas” dividido  em Ensino Primário Rudimentar, Ensino Prifissional e Ensino Normal, tendo sido abolido em 1964.  O ensino primário elementar, para os “não-indígenas” visava “dar à criança os instrumentos  fundamentais de todo o saber e as bases de uma cultura geral, preparando-a para a vida social” sendo  obrigatório e gratuito para todas as crianças, brancas e assimiladas, dos 7 aos 13 anos. Em 1941, é  aprovado o Regulamento do Ensino Primário Oficial pela portaria nᵒ 4.435 de Julho que confere uma  nova configuração ao modelo de ensino primário nas escolas não indígenas.


a) Assegurar a formação integral dos docentes, munindo-os da ideologia  cientifica do proletariado, capacitando-os a assumirem a responsabilidade  de educar e formar os jovens e adultos; 


b) Forjar, no professor, uma profunda consciência patriótica e revolucionária,  baseada nos princípios do Partido Frelimo; 


c) Consolidar no professor a visão científica e materialista do  desenvolvimento da natureza, da sociedade e do pensamento,  capacitando-o para atuar de forma dinâmica e exemplar na transformação  das condições materiais e sociais e dos valores morais e culturais da  escola, na comunidade e na sociedade; 


d) Conferir ao professor uma formação psico-pedagógica e metodologia  assente nos princípios da pedagogia socialista e ajustada às exigências do  processo revolucionário moçambicano; 


e) Permitir ao professor a elevação constante do seu nível de formação  politica e ideológica, cientifica e técnica e psico-pedagógica. 


Lei 6/92, de 06 de Maio (artigo 33): 


São objetivos do Subsistema de formação de professores: 


a) Assegurar a formação integral dos docentes, capacitando-o para  assumirem a responsabilidade de educar e formar os jovens e adultos; b) Conferir ao professor uma sólida formação geral científica, psico pedagógica e metodológica; 


c) Permitir ao professor uma elevação constante do seu nível de formação  científica, técnica e psico-pedagógica. 


Lei 18/2018, de 28 de Dezembro (artigo 16): 


São objetivos do Subsistema de formação de professores: 


d) Assegurar a formação integral do professor, capacitando-o para assumir a  responsabilidade de educar e formar a criança, o jovem e o adulto; e) Conferir ao professor uma sólida formação geral científica, psico pedagógica, didáctica, ética e deontológica;


f) Proporcionar uma formação que, de acordo com a realidade social,  estimule uma atitude simultaneamente reflexiva, critica e atuante. 


Uma tendência diferente da do período colonial passou a verificar-se após a  independência de Moçambique com a introdução dos CFPPs em escala nacional.  Dados disponíveis, referentes à eficácia interna do subsistema de formação de  professores e aos crescimentos absoluto e relativo dos efetivos, revelam aumentos  relativamente expressivos, que coincidem com o momento conhecido como de  “explosão escolar” em Moçambique. Uma vez que em 1975 havia cerca de 93% da  população analfabeta, tornava-se urgente reverter esse quadro, mediante uma  ampliação das oportunidades educacionais a cada vez mais moçambicanos. 


5. Modelos de formação de professores em Moçambique: história e políticas. 


O objetivo fundamental da política geral do EP no período colonial em Moçambique  era formar uma força de trabalho capaz de satisfazer os interesses econômicos de  Portugal. Diante dessa necessidade, e tomando em consideração questões de cunho  antropológico que estiveram na origem da construção social da figura do “indígena”,  negro, como um ser humano socialmente inferior aos de outras cores, várias  instituições, incluindo as escolas e a Igreja Católica, tiveram que alinhar com esta  discriminação porque a sociedade estava segregada em função da cor e origem das  pessoas que a constituíam. Dado o espaço do negro no período colonial, a Igreja e as  escolas tinham a missão de conduzir o indígena da “selvajaria” à “civilização” através  da educação do corpo e da mente. Uma vez que em qualquer ação se espera uma  reação, as populações nativas sempre ofereceram resistência a qualquer forma de  dominação e exploração. Naturalmente, de forma a conter a revolta dos oprimidos o  aparelho de dominação colonial recorria às instituições de repressão, tais como o  exército, a polícia e a cadeia.


O EP, a partir de 1930, passa a ser discriminatório, por lei, na medida em que é neste  ano que são estabelecidos dois tipos de ensino: (i) o oficial e (ii) o rudimentar, partindo  da construção social da inferioridade mental e intelectual do negro. Para certos  autores (como é o caso de GOLIAS, 1993), havia em Moçambique dois sistemas de  ensino. Todavia, analisadas as particularidades de um sistema de ensino numa  abordagem contemporânea, chego à conclusão de que se tratava de um único sistema  de ensino construído à base de uma política geral de discriminação e segregação. 


À Igreja Católica foi confiada pelo governo colonial a responsabilidade de um setor  importante na educação “indígena”, incluindo a formação de professores, para a  promoção do catolicismo e dos objetivos do ensino, visando a sua equiparação ao da  metrópole. O governo colonial tinha maior intervenção ao nível do Ensino Oficial,  especificamente na administração, liderança e gestão de escolas, bem como na  definição dos padrões de qualidade, ainda que os Irmãos Maristas parecessem, de  certa forma, liberais na sua abordagem da formação de professores, nunca  comprometeram os objetivos do colonialismo, fato que contribuiu, em grande medida,  para a sua consolidação. À Igreja Católica foi confiada pelo governo colonial a  responsabilidade de um setor importante na educação “indígena”, incluindo a  formação de professores, para a promoção do catolicismo e dos objetivos do ensino,  visando a sua equiparação ao da metrópole. O governo colonial tinha maior  intervenção ao nível do Ensino Oficial, especificamente na administração, liderança e  gestão de escolas, bem como na definição dos padrões de qualidade, ainda que os  Irmãos Maristas parecessem, de certa forma, liberais na sua abordagem da formação  de professores, nunca comprometeram os objetivos do colonialismo, fato que  contribuiu, em grande medida, para a sua consolidação. A figura 9 mostra uma das  escolas de habilitação de professores para Escolas Oficiais na antiga Lourenço  Marques, atual Maputo. 


Depois da independência, em 1975, ocorreram em Moçambique reformas educativas  significativas, sendo que a maioria das iniciativas visava ao aumento do número de  escolas e alunos. Perante as circunstâncias, o governo da FRELIMO teve que recorrer  as experiências das zonas libertadas na formação de professores, por entender que  apesar de ter sido uma experiência aplicada a uma área geográfica limitada seria útil à  solução de um problema semelhante: redução do analfabetismo. Através dos grupos  dinamizadores (GDs), o governo iniciou uma campanha de mobilização de todos os  interessados que reunissem condições mínimas para ensinar a oferecer-se a trabalhar  como professor. Havia casos em que jovens eram obrigados pelos GDs a alistarem-se  como professores. Quem se recusasse era chamado “reacionário” – palavra que era  sinônima de insulto naquele momento e, por conseguinte, sujeita a penalizações. 


A formação de professores, considerada fundamental no processo de ensino e  aprendizagem, enquanto no período colonial a componente político-ideológico era  garantido através da oferta de conteúdos programáticos que exaltassem Portugal,  através do ensino da História e Geografia de Portugal, bem como pela difusão da  Língua e cultura portuguesas; no primeiro período pós-independência esses conteúdos  foram substituídos pela História e Geografia de Moçambique, bem como pela  introdução de disciplinas como Educação Política e Marxismo-Leninismo. Neste  período, a Língua portuguesa passou a ser usada como “língua de unidade nacional”,  perante uma “República Popular de Moçambique” multilíngue, multiétnica e  multicultural, como diria Lopes (2014). Em seguida, a partir de 1996, os saberes de  carácter doutrinário, vinculados à perspectiva da FRELIMO cederam lugar à disciplina,  entre outras coisas, sem a carga ideológica, diferentemente da experiência  desenvolvida entre 1983 a 1992. 


Ainda que se possa notar a permanência de determinados agentes e saberes na  configuração do EP em Moçambique, desde o período colonial até 2003, é possível  notar diferenças importantes dentro de cada período e entre eles. O jogo do regular e  do descontínuo permite perceber o EP como parte das propostas negociadas e postas  em funcionamento na sociedade moçambicana. Nestes projetos, determinados  agenciamentos são patrocinados e favorecidos, considerando-se o protagonismo de  determinados grupos e os programas que procuram desenvolver para fazer nascer a  nação. 


Palestras na UFRJ e UERJ – FFP e FEBF: Formação de professores em Moçambique:  processos, desafios e história  


Destaques: 
− O lugar dos saberes locais moçambicanos no período colonial e pós-colonial. − Possibilidades de desconstrução dos vínculos das epistemologias do eurocentrismos e a “decolonialidad do saber”. 
− Possibilidades do fortalecimento da cooperação sul-sul na Educaçao.  − Necessidade de maior protagonismo dos professores moçambicanos em defesa  da democracia, do debate público e da participação ativa na formulação da  política educativa. 


O dia seguinte, 28.03.2023 foi dedicado à palestra sobre a formação de professores na  Faculdade de Formação de Professores da UERJ, em São Gonçalo. 


Destaques: 
− Necessidade de fortalecimento do sindicato e outras associações de  professores. 
− Necessidade de desvincular a produção do conhecimento em História da  Educação a marcos históricos da presença colonial.  
− Necessidade do fortalecimento da capacidade de pesquisa em assuntos ligados  a diversidade étnica, linguística, cultural e religiosa. 


Visita na Escola “Senegal” em Riachuelo – RJ, 31.03.2023


Destaques: 
− Línguas faladas em Moçambique. 
− Diversidade cultural, gastronomia e vestuário. 
− Cultura geral. 


Avaliação das atividades 


Considero que o conjunto as atividades realizadas, nos diversos campi da UERJ, na  UFRJ e na Escola “Senegal”, com públicos e finalidades distintas, permitiu um importante intercâmbio com grupos de pesquisadores, professores e alunos, de  diversos níveis e graus de formação. Esta aproximação é uma concretização de  parcerias entre as instituições envolvidas e mostra um enorme potencial de  continuidade de atividades de pesquisa, ensino e internacionalização. De minha parte,  foi uma aprendizagem e autoformação importante, do ponto de vista pedagógico.

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